A irrigação na citricultura não é nova.
A novidade está no crescimento em São Paulo, que responde
por 80% da produção brasileira e é considerada
a última fronteira citrícola do mundo com produção
em larga escala ainda sem irrigação. A associação
de irrigação com produtividade não é mais
o único aspecto nesta história. O uso da irrigação
é uma alternativa para a diversificação de variedades
de porta-enxertos principalmente na região norte do estado. A
adoção de novos porta-enxertos nessa área, em substituição
ao Limão Cravo, e o uso da subenxertia, recomendadas pelo Fundecitrus
como tática para enfrentar a Morte Súbita do Citrus (MSC),
são as razões principais para o crescimento das áreas
irrigadas.
Há cinco anos, a área de laranja irrigada em São
Paulo não passava de 15 mil hectares. A estimativa é de
que alcance 90 mil hectares e continue a crescer. O parque citrícola
paulista é de 650 mil hectares. O Fundo de Defesa da Citricultura
(Fundecitrus) e a Universidade de São Paulo (USP) patrocinaram
um mapeamento a partir do Programa de Estudos dos Negócios do
Sistema Agroindustrial Citrícola. O trabalho identificou uma
expansão das áreas irrigadas no Brasil de 1,5%, em 1999,
para 10,2%, em 2003.
Valério Tadeu Laurindo, sócio da Forbb, empresa do setor
de irrigação para citros, afirma que a MSC altera a percepção
dos produtores sobre o uso da irrigação. A diversificação
de porta-enxertos - com a adoção de variedades tolerantes
a MSC, mas menos resistentes à seca -, aqueceu a demanda por
sistemas de irrigação.
O aspecto da produtividade ainda é relevante. Áreas irrigadas,
com pomares adensados com 350 pés por hectares, podem produzir
mais de três caixas por planta, alcançando 40 a 50 toneladas
do fruto por hectare por ano. A média de produção
em São Paulo varia entre 2,2 caixas a 2,5 caixas por hectare.
A substituição de pomares com o uso de porta-enxertos
tolerantes a MSC, pode assegurar boa produção, mas faz
com que a citricultura entre num novo ciclo de acomodação
de custos. Segundo Laurindo, o custo médio por hectare oscila
entre US$ 1,7 mil a US$ 1,8 mil. Somado ao custo de manutenção,
o prazo estimado para amortização total do sistema pode
chegar a uma década. O valor de sistemas de irrigação
por aspersão é menor na instalação (aproximadamente
US$ 1,1 mil/há), mas em compensação, alerta Laurindo,
é maior na manutenção. No fim, ambos se equivalem
em tempo de amortização.
O peso, portanto, pode ser o custo econômico da água. O
Comitê das Bacias Hidrográficas do Baixo Pardo Grande (CBH-BPG)
já mediou conflitos nos municípios de Guaíra e
Barretos. "Nada grave, por enquanto", antecipa Cláudio
Daher Garcia, represente do Departamento de Águas e Energia Elétrica
(Daee), em Barretos, e secretário-executivo do Comitê.
O avanço da citricultura irrigada na região já
é fator de preocupação. O consumo é cinco
vezes maior que o da indústria e das áreas residenciais
juntas.
O diretor da Forbb admite que o conflito pelo uso da água na
região pode se acirrar no futuro por conta do avanço da
irrigação. "Não há água para
irrigação. Já temos uma região seca e alguns
pontos de conflito. O próprio Daee tem limitado a concessão
de outorgas", afirma Laurindo. O uso da irrigação
localizada, considerada mais eficiente no consumo de água, minimiza
os gastos. Estima-se que 65% das áreas irrigadas adotam sistemas
de micro-aspersão ou gotejamento e apenas 35% com aspersão.
A escassez de água no norte de São Paulo é parte
da razão que tem feito a citricultura se afastar da região
do Rio Grande e aproximar-se do rio Tietê. |