Se você está em busca de uma pós-graduação
ou um estágio e acha que está garantido só com o currículo que possui, cuidado.
Empresas e instituições de ensino vão além na lista de documentos e pedem o histórico
escolar como subsídio para avaliar o desempenho geral dos candidatos.
Ou seja, aquelas notas do segundo grau e da faculdade, perdidas no passado distante, têm mais importância
do que se imagina.
Um boletim exemplar pode abrir muitas portas. Na hora de selecionar estudantes para uma vaga de estágio,
empresas como o BankBoston personalizam a análise
do candidato de acordo com o seu desempenho escolar.
Para concorrer a uma bolsa de estudo no exterior financiada pelo Rotary International, o histórico do candidato
é examinado por uma equipe de educadores.
Na Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, as notas
anteriores têm o mesmo peso que o currículo e a entrevista na seleção para uma vaga
na pós-graduação.
Nas empresas, as notas altas são encaradas como um sinal de que a base de conhecimentos do candidato possibilitará
um desenvolvimento rápido na carreira.
"O histórico serve para melhorar o foco no candidato, que será nosso futuro executivo",
afirma Denise Moreira Asnis, 35, diretora-adjunta de desenvolvimento
organizacional do BankBoston.
Recentemente, o banco usou a análise do documento, além de testes de conhecimentos gerais, dinâmicas
de grupo e entrevistas, para escolher dez pessoas para o seu programa de estágio, que recebeu quase 2.000
inscrições.
Mas, se você vivia tirando notas apenas razoáveis, não entre em pânico. O histórico
escolar é parte de um conjunto de requisitos e, sozinho, não elimina ninguém.
"Uma pessoa que dá ênfase demais à vida acadêmica pode acabar tendo deficiências
em outros campos. O diferencial está na vivência dos candidatos", avisa
Denise, referindo-se a virtudes como a facilidade de comunicação e de trabalhar em equipe.
Outro critério usado pelo mercado é a preferência por alunos das chamadas escolas de primeira
linha. As empresas garantem que predileção não é exclusão. Para o professor
Abraham Laredo, diretor acadêmico da Escola de Administração de Empresas da Fundação
Getúlio Vargas -que analisa o histórico dos candidatos à
pós-graduação-, a formação é mais relevante do que o status da faculdade.
"Venha da escola A ou B, tenha as notas que tiver, o bom aluno prova sua capacidade na
hora dos exames."
"Nem sempre o aluno brilhante se torna um profissional competente", observa a consultora Sofia Esteves,
38, diretora da Cia. de Talentos, empresa que monta
programas de estágio e trainee.
Histórico vira "termômetro"
de habilidades |
O histórico escolar ganha mais força nas empresas como critério de seleção quando
o objetivo é preencher vagas que exigem habilidades específicas.
No Itaú, por exemplo, os dados do documento são observados em todos os processos de seleção,
mas enfatizados dependendo do perfil desejado pelo banco.
Se a função exigir cálculos complexos, o candidato terá de apresentar boas notas em
raciocínio lógico. Se for lidar com vendas, é desejável ter um bom desempenho
em comunicação verbal.
Solicitar o histórico escolar também é uma forma de personalizar a seleção no
BankBoston. "Para vagas de estágio, o candidato precisa ter uma boa base de
conhecimentos", afirma Denise Moreira Asnis, 35, diretora-adjunta de desenvolvimento organizacional.
Quando o banco financia a pós-graduação ou um curso de MBA (Master in Business Administration),
o acompanhamento das notas é mais rigoroso.
Os estudantes Felipe Aquilino, 21, e André Del Bel Cury, 21, foram selecionados recentemente para o programa
de estágio do banco, depois de três meses de processo.
"Avaliar o histórico foi justo, mas dar preferência a certas escolas é subjetivo. O aluno
da faculdade famosa pode ser pouco esforçado", diz Aquilino.
Cury afirma que não se encaixa na figura do aluno que se mata de estudar e não adquire outras habilidades.
"Nunca me privei do lazer, mas sempre estive quite com a escola. Sei que o esforço valeu."
Os dois fazem o estágio, cursam duas faculdades e garantem que as notas estão acima da média.
Na Microsoft, o que importa é o equilíbrio entre o perfil acadêmico e o pessoal. "Tentamos
detectar na entrevista se o candidato, além de bom aluno, é um líder. Atrás de um ótimo
currículo pode estar uma pessoa que nem sequer sabe articular suas idéias", explica Isabel Cortez,
30, generalista de recursos humanos sênior.
Notas ajudam a ganhar bolsa |
O histórico escolar é um dos passaportes para concorrer a bolsas de estudo na Inglaterra financiadas
pelo British Council (ww.britishcouncil.org).
Todo ano são abertas 60 vagas para cursos nas áreas de direito, administração, jornalismo
e meio ambiente.
Também fazem parte da avaliação do candidato análise do currículo e teste de
inglês.
Segundo Rozanne Vachetti, assessora de educação, ciências e governo do British Council, o histórico
escolar ajuda a detectar qual candidato aproveitará melhor o
curso. "O objetivo é conhecer mais profundamente o perfil do aluno e do profissional. Por isso é
importante a análise do histórico e do currículo, que têm a mesma
relevância", afirma.
Na seleção para a pós-graduação da Escola de Administração de
Empresas da Fundação Getúlio Vargas (www.fgvsp.br), além do
bom desempenho no
vestibular específico, o histórico e o currículo são solicitados para comprovar o desempenho
acadêmico do candidato.
"Após somar esses conceitos com a entrevista, é possível avaliar se o candidato vai aproveitar
bem o curso e se terá condições de aplicar o que aprendeu na vida profissional", diz
Abraham Laredo, diretor acadêmico da FGV.
Selecionadores optam por avaliação
global |
Embora auxilie na avaliação do desempenho do aluno, o histórico escolar pode dar margem a
análises subjetivas na seleção.
Por isso os consultores defendem sua utilização em conjunto com outros critérios, como o currículo,
testes e entrevistas.
"Um candidato de faculdade de primeira linha pode ter notas boas por ter "colado" ou apresentar
notas baixas porque simplesmente não gostava de determinada matéria", explica a consultora Sofia
Esteves, diretora da Cia. de Talentos, empresa que monta programas de estágio e trainee.
"Os alunos com melhores notas nem sempre são aprovados em processos de seleção",
afirma.
Segundo a consultora, a análise do perfil não deve se limitar aos dados técnicos, como os
contidos no histórico escolar. "É importante detectar a qualidade e a
quantidade do que foi aprendido, mas sobretudo a capacidade de continuar aprendendo", completa.
Para Alessandra Cabrera, consultora-executiva da Climb Consultoria, um ótimo histórico escolar pode
impressionar no primeiro momento, mas o mercado
sempre exigirá mais.
"Alunos muito voltados à vida acadêmica, em razão do isolamento, nem sempre desenvolvem
a habilidade para lidar com pessoas", exemplifica.
A solicitação do histórico escolar por empresas ou faculdades é considerada um requisito
como outro qualquer, segundo os advogados procurados pela Folha.
"É normal que a empresa se interesse pelo desempenho do candidato que pode vir a ser um funcionário
e que se baseie no histórico escolar para selecionar os mais bem
preparados", explica Goffredo da Silva Telles Júnior, advogado e professor emérito da Universidade
de São Paulo.
Regularidade no desempenho
Evite altos e baixos nas notas, que podem ser vistos com desmotivação ou desinteresse
Escolas de renome
O prestígio da escola influencia, mas não garante colocação no mercado se o nível
de aproveitameto do aluno é baixo
Boas notas
Um histórico recheado de notas 10 impressiona, mas chega a prejudicar se o excesso de estudo se transforma
em alienação
Nível de conhecimentos gerais
O mercado valoriza pessoas bem informadas, capazes de aproveitar melhor o que a empresa ou a escola têm a
ensinar
Autodidatismo
A escola não é a única responsável pela formação. Deve haver interesse
em aprender sozinho por meio de leitura e observação
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