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IRREGULARIDADE DAS CHUVAS E NÍVEL DE ÁGUA DOS RESERVATÓRIOS TRAZ APREENSÃO AO CAMPO
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Fernando Braz Tangerino Hernandez*

E os reflexos das chuvas em volumes menores que o esperado na base histórica traz muita apreensão ao campo. Destaca-se também a irregularidade das chuvas e a sua variabilidade mesmo em regiões próximas. Destaca-se também a falta de planejamento adequado em vários níveis e setores quando o assunto é água ou melhor, como reter e usá-la de forma eficiente e sem desperdícios.

Mas o fato concreto é que no noroeste paulista o que se constata é que muitos dos córregos tiveram a sua vazão reduzida e em alguns casos a quase zero durante o dia, e nos últimos dias se acentuou o rebaixamento dos níveis de água dos principais reservatórios da região.

O de Ilha Solteira, por exemplo, mesmo com 42 mm de chuva na bacia perdeu em média 4,7 centímetros nos últimos 30 dias e 4,0 cm diariamente nos últimos três dias e no lado paulista é o no rio São José dos Dourados que se verifica a extensão do problema, com áreas antes cobertas de água, agora totalmente expostas. O cenário é desolador.

No Lago de Três Irmãos foram perdidos nos últimos 30 dias em média 3,6 cm por dia, mesmo tendo recebido 22 mm de chuva e nos últimos três dias, foram 4,6 centímetros diariamente.

A imprensa tem destacado de forma mais ostensiva que a capacidade de geração de energia no Centro-Oeste e Sudeste é da ordem dos 35%, mas da agropecuária, é no campo que reside a nossa maior preocupação e verificamos que irrigantes começam a atingir o volume morto das suas captações e isso preocupa muito. A busca por água a locais mais distantes sem comprometimento do sistema de irrigação depende de uma análise técnica porque altera o padrão de funcionamento do conjunto moto-bomba e exige novos investimentos e o risco de ficar sem água para a irrigação dos cultivos é real.

Também é real que as bacias hidrográficas dos Rios São dos Dourados e do Turvo-Grande são as com as menores áreas de matas remanescentes e fácil constatar o estado de degradação dos nossos córregos, marcado pela presença de uma espécie-problema chamada de Typha Sp, ou simplesmente tabôa, que instalada em áreas saturadas e sem função produtiva apresenta elevadas taxas de evapotranspiração ao longo ano inteiro.

Esta situação de dependência das chuvas exige discussões e ações mais profundas e objetivas sobre a capacidade de retenção de água na bacia hidrográfica. Devemos envidar esforços para segurar a água na bacia, promover a infiltração de água no solo e aumentar o escoamento de base ao invés do superficial. Devemos nos preocupar em combater de forma objetiva e urgente as erosões, o assoreamento e promover a recuperação das nossas nascentes e córregos, com conservação do solo através de terraceamento, recomposição das matas ciliares, desassoreamento e a construção de barramentos.

Não se enganem, devemos começar a produzir água na bacia hidrográfica e são os nossos córregos que dão origem aos nossos rios e por eles devemos começar o nosso trabalho! De imediato devemos ter fé e rezar para que São Pedro seja também brasileiro e mande muita água para nós no inverno, fora do historicamente previsto, mas devemos aprender a lição que ele nos está ensinando, que precisamos planejar mais e melhor os nossos recursos hídricos, para que tenhamos energia e a produção agrícola.

* Fernando Braz Tangerino Hernandez, Engenheiro Agrônomo e Professor Titular da Área de Hidráulica e Irrigação da UNESP Ilha Solteira (www.feis.unesp.br/irrigacao/irrigacao.php), divulga dicas sobre agricultura irrigada e agroclimatologia  semanalmente no Pod Irrigar em http://podcast.unesp.br/podirrigar.


Portal da Universidade, 10 de junho de 2014.
Jornal Folha Noroeste, 07 de junho de 2014.
Revista Irrigazine, 11 de junho de 2014.

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