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OFERTA DE ÁGUA DEIXA IRRIGANTES EM SITUAÇÃO CRÍTICA NO NOROESTE PAULISTA
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Fernando Braz Tangerino Hernandez
Já temos quase 40 dias sem chuvas no noroeste paulista e a situação é crítica para os irrigantes em termos de vazão nos córregos e rios, com os reservatórios expondo áreas raramente vistas pela população da nossa região, que repete o problema de restrição de oferta de água encontrada em Goiás mesmo tendo incentivado a reservação de água através de barragens para irrigação, em Minas Gerais na região do reservatório de Furnas e ainda no nordeste de São Paulo na região do Sistema Cantareira.
A estiagem ocorrida neste ano virou tema importante entre pesquisadores, produtores, comunidade e está em evidência na imprensa em geral, o que acabou resultando em uma seca antecipada, reduzindo o nível dos reservatórios afetando não apenas a vida urbana, mas também prejudicando e muito a vida no campo, como produtores que fazem uso da irrigação afim de garantir sua produtividade e que em 2014 estão passando por uma situação difícil com a falta de chuvas.
Muitos comparam apenas o volume médio de chuvas que se espera para uma região com o que caiu no ano. Por exemplo no noroeste paulista esperávamos de janeiro a junho 772 mm, em 2013 vieram 700 e este ano apenas 621 mm.
Mas a análise não é tão simples assim! Devemos atentar para a variabilidade da chuva no tempo e no espaço, dentro de uma mesma região. Em 2014 a diferença entre o local onde mais choveu e onde menos choveu foi de 316 mm e houve uma grande variação entre os meses na expectativa das chuvas. Estamos fechando o mês de junho com a média no noroeste paulista de apenas 7 mm, quando esperávamos 81 mm. Em junho do ano passado recebemos 30 mm.
O nível dos reservatórios das hidrelétricas de Ilha Solteira e Três Irmãos continua abaixando, já inviabilizou o transporte de grãos e cerca de 2,5 millões de toneladas deixarão de ser transportados, o que equivale, segundo a Aprosoja, o equivalente a mais de 45 mil carretas bitrem circulando por estradas paulistas, encarecendo o custo de transporte em cerca de 12%.
Esta situação também já impactou diretamente os irrigantes que estão fazendo investimentos não previstos para mudar o seus sistemas de captação da água e podem ainda enfrentar maires problemas futuros se a chuva não voltar a aparecer, mesmo que fora de época e comprometendo a captação de água dos sistemas de irrigação, sendo necessário já em muitos casos o prolongamento da válvula de pé e do crivo, podendo em muitas destas situações afetando o desempenho do sistema de irrigação, seja na lâmina máxima que pode ser aplicada como a sua distribuição na área irrigada, porque ao prolongar a sucção se altera a relação altura manométrica e vazão, podendo no limite a bomba até mesmo cavitar, que seria o não funcionamento da mesma.
Tivemos na semana passada o Solstício de Inverno e os dias ficarão mais longos e as taxas de evapotranspiração irão subir o que representará mais exigências hídricas.
A estimativa é de que cinco em cada oito pessoas no mundo serão atingidas pela falta de água, até o ano de 2025. Este panorama evidencia a necessidade de ações urgentes, sobretudo no que tange à gestão deste recurso tão precioso para toda a humanidade. Neste contexto, o monitoramento continuado da oferta de água em sua quantidade e qualidade e das atividades que, de alguma forma, causem impactos aos recursos hídricos, deve ser constante.
Esta situação de dependência das chuvas exige discussões e ações mais profundas e objetivas sobre a capacidade de retenção de água na bacia hidrográfica. Devemos agir unindo esforços e ações para segurar a água na bacia, promover a infiltração de água no solo e aumentar o escoamento de base ao invés do superficial. Devemos nos preocupar em combater de forma objetiva e urgente as erosões, o assoreamento e promover a recuperação das nossas nascentes e córregos, com conservação do solo através de terraceamento, recomposição das matas ciliares, desassoreamento e a construção de barramentos, além de implementar medidas para o efetivo manejo da irrigação, ou seja, aplicar a água ao solo segundo as exigências reais das culturas.
Não se enganem, devemos começar urgentemente a produzir água na bacia hidrográfica e são os nossos córregos que dão origem aos nossos rios e por eles devemos começar o nosso trabalho de conservação e recuperação!
* Fernando Braz Tangerino Hernandez, Engenheiro Agrônomo e Professor Titular da Área de Hidráulica e Irrigação da UNESP Ilha Solteira (www.feis.unesp.br/irrigacao/irrigacao.php), divulga dicas sobre agricultura irrigada e agroclimatologia semanalmente no Pod Irrigar em http://podcast.unesp.br/podirrigar.
Revista Irrigazine, 04 de julho de 2014.
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