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PERSPECTIVAS PARA A SILVICULTURA IRRIGADA
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Vinicius Evangelista Silva (1)
Fernando Braz Tangerino Hernandez (2)
A rápida expansão da silvicultura brasileira traz a necessidade de se ter menores demandas de área, bem como garantir elevados níveis de produtividade. São notórias as dificuldades em se conseguir terras em grandes quantidades para silvicultura, bem como os elevados preços praticados pela rápida inflação de terras pressionada pela produção de alimentos e pela pecuária.
Dessa forma, o Brasil deixou de ser o pais mais competitivo em termos de custo de produção de madeira perdendo para países como Rússia, Indonésia e Estados Unidos, em função da inflação intrínseca emergente ao setor (preços das terras, insumos e mão de obra) florestal nos últimos anos, bem como por migrar para áreas marginais em termos de adaptação dos eucaliptos a estas áreas de plantio.
Por outro lado, a silvicultura nacional experimentou um excepcional ganho de produtividade, saindo dos 15 m³/ha/ano na década de 60, para 42 m3/ha/ano na década de 2010. Mas existe espaço para mais, o elevado déficit hídrico nas novas fronteiras da silvicultura, agravado pela irregularidade das chuvas dos últimos anos tem prejudicado bastante a produtividade do setor florestal, comprometendo o esforço tecnológico transferido ao campo e à indústria, e o uso de sistemas de irrigação é um fator fundamental para anular a instabilidade das chuvas e o déficit hídrico decorrente.
Isso mesmo, eucalipto irrigado pode ser uma estratégia para que as empresas se tornem competitivas em termos de baixa demanda de áreas e custos de silvicultura perante a competição do mercado internacional, especialmente na porção leste do Estado do Mato Grosso do Sul que sente os efeitos de 7 a 8 meses de déficit hídrico anual. O único projeto de eucalipto irrigado em escala comercial no Brasil foi o da empresa MMX em Aquidauana (MS), que registrou 42% de aumento de produtividade em função do suplemento hídrico e nutricional diferenciado. Este feito, pode ser encarado como uma forte estratégia de redução de área de plantio, bem como em madeira mais perto da fábrica para que as empresas reduzam a sua distância de transporte.
O Estado Mato Grosso do Sul presenciou um rápido crescimento da área plantada de eucalipto, saindo de 143 mil hectares em 2004 para expressivos 730.000 hectares em 2012, colocando-o na condição de quinto maior produtor brasileiro de madeira, quando registrou o crescimento de 19% na área plantada com eucalipto, enquanto o país cresceu em média 3,1% a sua área plantada com a cultura.
O crescimento em área plantada deve ser visto com bons olhos no tocante da ocupação e recuperação de pastagens degradadas e geração de empregos e renda.
Por outro lado, olhando do ponto de vista do negócio florestal no Mato Grosso do Sul, tem-se um aumento no desembolso com silvicultura das empresas florestais e ainda um aumento das distâncias de transporte, o que pode tornar-se um gargalo em termos de competitividade do setor florestal neste Estado, havendo então que se encontrar alternativas técnicas para esta situação, ou seja, aumentar a produtividade por hectare e garantir que a irregularidade climática não traga grandes perdas na produtividade de madeira, que pode ser conseguida pelo uso da irrigação.
A bacia do Rio Sucuriú no Estado do Mato Grosso do Sul é considerada como de alto potencial para irrigação devido as suas características de relevo e de qualidade de água, mas este potencial não está sendo adequadamente explorado por nenhuma das empresas desta região, sejam elas de agricultura, pecuária ou silvicultura. Destaca-se ainda, a grande disponibilidade de água na bacia hidrográfica garantida pela Usina Hidrelétrica de Jupiá, que com seu reservatório à "fio d' água" - pouca flutuação no nível da água - garante uma condição ideal para a operação dos sistemas de captação de água.
Hoje a maior competitividade imposta pelas empresas de irrigação instaladas no Brasil garante melhor condição à análise de viabilidade econômica dos investimentos em sistemas, que trariam as condições de suprimento hídrico para o aumento de produtividade de madeira com redução no tempo do ciclo de corte. Logicamente não se espera a irrigação em totalidade das terras com florestas, mas esta é uma opção que deve ser considerada em uma análise conjunta entre o potencial edafo-climático, escolha de clones responsivos e logística de transporte até o destino final, até mesmo como contraponto à competividade oferecida por outros usos da terra, como pastagens, grãos e seringueiras.
A questão de irrigar ou não eucalipto é antiga na área florestal, mas em função das mudanças climáticas, com aumento da temperatura média do ar e da evapotranspiração, elevando o déficit hídrico; há que pensar nesta alternativa de manejo para manter a sustentabilidade do negocio florestal no Brasil.
(1) Vinicius Evangelista Silva, Engenheiro Florestal na Eldorado Brasil Celulose, Mestre em Produção UFVJM e Doutorando em Sistemas de Produção na UNESP Ilha Solteira. viniciusesilva@yahoo.com.br
(2) Fernando Braz Tangerino Hernandez, Engenheiro Agrônomo e Professor Titular da Área de Hidráulica e Irrigação da UNESP Ilha Solteira, divulga dicas sobre agricultura irrigada e agroclimatologia semanalmente no Pod Irrigar.
Revista Irrigazine, Ano X, n°42, junho, 2015, página 28.
UNESP Ciência, Edição 68, 1 de outubro de 2015, p.40-41. (Acesso Em PDF)
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