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Podemos produzir água?
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Fernando Braz Tangerino Hernandez

O Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da Unesp produziu o especial “Água”, uma série de cinco entrevistas com especialistas em recursos hídricos da universidade com o objetivo de alertar a todos sobre a escassez de água e todos apontaram a negligência do poder público e consumo insustentável como principais fatores para a escassez de água. A jornalista Genira Chagas nos entrevistou e falamos da importância da agricultura para a produção de água e da irrigação como fator a contribuir para manter estáveis os preços dos alimentos. Sem água não há produção agrícola e não há alimentos. Mas de que forma a agricultura contribui para a produção de água?

A resposta é simples, mas na maioria das vezes não compreendida ou percebida pela maioria da população. A produção de alimentos feita com técnicas de conservação do solo e da água promove a recarga do lençol freático e reduz a diferença entre as vazões máximas e mínimas de um manancial. Isto é possível pela combinação de dois fatores: o primeiro, com cobertura do solo, a energia da gota de água que vem do céu é minimizada e, assim, o impacto desta junto ao solo é reduzido ou até mesmo inexistente, quando se tem uma ampla e densa cobertura florestal que intercepta a água e faz com que ela escorregue lentamente pelo tronco e galhos das árvores até o solo, quando acontece o segundo processo, que é a infiltração da água no solo.

A água quando chega ao solo tem dois processos a seguir: ou infiltra ou escorre pela superfície do solo. Se a chuva toca diretamente na superfície do solo e chega em alta intensidade, tende a acontecer o escorrimento ou escoamento superficial, que com ele leva solo, dá início ou aprofunda processos erosivos e “mata” os córregos através do processo de assoreamento, pois o solo deslocado vai para o ponto mais baixo do terreno, chamado de talvegue, alterando também a qualidade da água de uma microbacia.

Já se o processo de infiltração da água no solo for preponderante, o armazenamento de água na região radicular será maior, o uso da irrigação será postergado e chegando ao lençol freático, vai recarregá-lo e gerar o que chamamos de escoamento de base, ou seja, teremos mais água “brotando” pelas nascentes. Diminuir as diferenças entre os extremos de vazão é o objetivo de toda ação de conservação do solo e da água, ou seja, as vazões máximas muitas vezes representam enchentes e as vazões mínimas podem resultar em problemas de abastecimento de água para os diferentes fins. 

Entre as técnicas que promovem a infiltração da água no solo e o aumento do escoamento de base estão o plantio o direto, os terraços ou curvas de nível, as matas ciliares e as matas nas áreas mais íngremes do terreno, além das barragens de terra. Também adotar boas práticas agrícolas, como o manejo da irrigação, baseado na quantidade de água armazenada no solo ou na estimativa da evapotranspiração são essenciais para que a água fique na bacia hidrográfica por mais tempo e proporcione maior segurança hídrica. 

O autor é engenheiro agrônomo e professor titular da Área de Hidráulica e Irrigação da Unesp Ilha Solteira. www.feis.unesp.br/irrigacao/irrigacao.php, divulga dicas sobre agricultura irrigada e agroclimatologia semanalmente no Pod Irrigar em http://podcast.unesp.br/podirrigar

JCnet.com.br, Bauru, 23 de maio de 2015.
Jornal da Cidade, Bauru, pag. 2, 23 de maio de 2015.
Ata News, Araçatuba, 23 de maio de 2015.
Jataí Rural, Jataí, 22 de Maio de 2015.
Canal do Produtor, Brasília, 21 de Maio de 2015.
Campo Grande News, Campo Grande, 22 de Maio de 2015.
O Regional, Catanduva, 22 de Maio de 2015.
Folha Cidade, Ilha Solteira, Ano V, pág. 2, 05 de junho de 2015.

 

 
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