Desta
vez a Campanha da Fraternidade pode se tornar um marco histórico,
para assinalar o início de um processo eficaz de mudanças
em relação à água.
Já tivemos uma experiência semelhante. Mudou muito a mentalidade
ecológica. A Eco92 pode servir de referência para este
fato evidente. As crianças já não matam mais passarinhos,
a ingenuidade das pombas já não paga o preço da
malícia dos adultos. Já é um começo!
Agora, é a oportunidade para introduzir mudanças muito
mais significativas. Existe um amplo leque de iniciativas, que necessitam
do respaldo da população para serem implementadas. Bem
valorizada, a Campanha da Fraternidade sobre a água pode juntar
parcerias, e produzir efeitos surpreendentes.
Ao iniciar sua grande convocação para a "mudança
de mentalidade", que o Evangelho chama de "conversão",
traduzindo a palavra grega "metanóia" Jesus incentivava
as pessoas a mergulharem na água. Era o gesto do "batismo",
do "mergulho", como a palavra quer dizer. Parece que a água
tem mesmo afinidade com o processo de mudanças.
Neste início de Campanha sobre a água, fui procurado por
representantes da CATI, órgão técnico ligado à
Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, faz tempo que
este órgão governamental vem incentivando inciativas básicas
em relação à preservação da água,
mas que esbarram na resistência oferecida pelo pouco esclarecimento
da população. Percebendo a proposta da Campanha da Fraternidade,
logo se deram conta da preciosidade do momento, contando que se desencadeie
um processo amplo de barreiras, envolvendo a cidadania e as instâncias
governamentais.
O leque de iniciativas é diverso e concreto. A começar
pela preservação das nascentes. Toda vertente de água
precisa ser protegida, resguardando ao seu redor a cobertura que a própria
natureza oferece.
Outra providência se refere ao percurso dos córregos e
rios. Suas margens precisam ser preservadas, permitindo que a mata ciliar
se refaça. Para tanto, se requer uma providência que os
agricultores se recusam a tomar, e que contraria velhos hábitos
de deixar o gado pisotear as margens. Só uma campanha como esta
pode mudar convicções arraigadas, contando que os órgãos
governamentais garantam suporte técnico e apoio financeiro, como
já estão fazendo alguns Estados e Municípios.
Outra iniciativa mais complexa se refere à implantação
das "micro bacias" no sistema do manejo da terra. Onde já
foram implantadas, os efeitos positivos são evidentes. Trata-se
de garantir condições para se que a água da chuva
possa ser retida e penetre mais no solo. Para isto se requer uma ação
conjunta de vizinhos, superando a visão estreita de cada um só
pensar no seu lote. O embalo de uma campanha da fraternidade, recheada
dete processo revolucionários do manejo coletivo do solo.
A iniciativa das micro bacias se junta a outra, a do plantio direto.
É uma técnica que em alguns lugares do Brasil já
foi introduzida, há dezenas de anos. Bem conduzida, possibilita
a preservação da biodivesidade presente no solo, evita
erosão, e barateia os custos de produção. é
a vez de dar um empurrão para que todos assimilem esta técnica,
que não deixou arrependido nenhum agricultor que já a
adotou.
Então é possível decobrir outras providências,
como a descompactação do solo, através do arado
subsolador. Pois a água não pode correr disparada, e provocar
as enchentes que tanto prejudicam. Ela precisa entrar mais rápido
no solo.
São providências ligadas à agricultura. Com a vantagem
de contar com propostas bem definidas. O contexto urbano, mais afastado
da natureza, talvez tenha mais dificuldade de perceber as incidências
práticas desta campanha. Mas é evidente que ela oferece
a todos a oportunidade de rever atitudes, e somar inciativas importantes
que podem ser desencadeadas.
Num país tão afeito ao falatório inócuo,
esta campanha nos convoca para mudanças efetivas.
Dom
Demétrio Valentini
Bispo da Diocese de Jales - SP
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