O MEIO AMBIENTE

 


Estive em Jales, participando da abertura do IV Seminário Regional de Saneamento Básico e da II Semana de Biologia, evento que colocou o meio ambiente como centro das atenções. Casa cheia, público diversificado - nos prestigiaram estudantes, professores, políticos, Engenheiros Agrônomos e Civis, Policiais Florestais, entre outros profissionais - falei sobre o uso da água para a irrigação. Iniciei minha exposição falando sobre a importância da agricultura, que no passado foi a grande exportadora de mão de obra para vencer os desafios da industrialização do país, mas agora no presente, devemos através de políticas públicas, conter o êxodo rural a todo custo, pelo simples fato de que nas cidades já não existem empregos para todos. Também é do campo que sairá a solução para o desenvolvimento sócio-econômico regional, especialmente para as pequenas e médias cidades.
Está na agroindústria a fonte para os empregos e para a distribuição de renda. Mas toda indústria necessita de matéria prima e neste caso precisamos não somente da quantidade e qualidade dos produtos, mas também da regularidade de oferta. Para bem e para o mal, o oeste paulista é a região que apresenta os maiores índices de evapotranspiração do Estado, ou seja, são maiores as exigências das plantas por água. Para o bem, porque temos condições de fazer uma agricultura muito diversificada e altamente produtiva e para o mal é que o déficit hídrico é intenso e a quantidade e regularidade da produção somente será alcançada será dispusermos da irrigação e neste caso temos custos maiores tanto em investimento, como na operação dos sistemas.
Se precisamos da agricultura irrigada para termos o sonhado desenvolvimento regional, precisamos então de água e é triste constatar que nossos córregos estão todos assoreados, tomados de uma planta aquática chamada de taboa (
Typha angustifolia) e apresentando concentração de ferro na água com índices crescentes (entupindo nossos sistemas de irrigação), problemas decorrentes da ausência de conservação do solo e da retirada das nossas matas ciliares. Em uma área em que trabalhamos de 7712 hectares em Palmeira d´Oeste, encontramos apenas 131 hectares de matas remanescentes (1,7%) e isto é mais regra do que exceção no oeste paulista.
E a solução para esta situação? O Poder Público deverá dar a sua contribuição e os recursos para tratarmos bem o meio ambiente, recuperando-o, estão mais perto do que pensamos, todavia a sociedade civil organizada não se deu conta disso. Estou falando dos Comitês das Bacias Hidrográficas, são 22 em todo o Estado. Estes dispõem de recursos nada desprezíveis para financiar projetos ambientais e mais que isso, são eles que decidirão como serão geridos ou gerenciados os recursos hídricos de cada bacia hidrográfica. Na prática, significa que o Governador delegou a cada região a função de encontrar por si só a solução para a sua região. Ou seja, a solução para uma região deve ser encontrada pela própria região, atendendo a diversidade específica de cada região do estado. A solução não pode ser padrão e no oeste paulista, nosso maior problema está na oferta de água cada vez menor dos mananciais.
Formado por 39 membros, representantes da Sociedade da Sociedade Civil, das Prefeituras e do Governo, a sociedade civil organizada ainda não percebeu a importância destes comitês e tampouco percebeu que o Poder Público está impossibilitado de atender diretamente a todos os anseios, exigindo cada vez mais às Organizações Não Governamentais, funções antes exclusivas deste Poder.
É minha opinião que as ONG e Entidades representativas devem prestar mais atenção aos Comitês das Bacias Hidrográficas e participar ativamente de suas atividades, pois estamos falando de água, da fonte da vida e certamente se a usarmos bem, ela não faltará.  


Fernando Braz Tangerino Hernandez, é Engenheiro Agrônomo e Mestre em Produção Vegetal pela UNESP-Jaboticabal, Doutor em Irrigação pela ESALQ-USP e Professor da UNESP-Ilha Solteira http://www.feis.unesp.br/irrigacao/irrigacao.php

 

Jornal da Ilha, Ilha Solteira/SP, Ano V, nº 302, 14 e 15 de novembro de 2000, p. A2



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