QUANTO CUSTARÁ A ÁGUA?

JULIANO COSTA GONÇALVES
MARÇAL ROGÉRIO RIZZO
OSVALDO NATALIN JÚNIOR

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Estamos enfrentando uma crise de energética. A privatização do setor de distribuição aumentou o preço da energia e não mobilizou recursos para investimentos em geração. A situação se torna mais grave quando pensamos que os preços da energia elétrica tenham aumentado duas ou três vezes desde o início do século. Porém, não queremos falar da crise energética. Queremos falar sobre a escassez de um recurso indispensável à vida: a água.
Estamos, também, enfrentando uma escassez de água. É estranho falar de escassez de água em um país como o nosso. Porém, é necessário pontuar que a distribuição de água pelo território nacional é bastante irregular com áreas de grande abundância - como a Amazônia - e outras de elevada escassez - como o semi-árido nordestino. Mesmo a região sudeste tem enfrentado a falta d'água em cidades como São Paulo, por exemplo. No mundo essa situação é pior ainda com grandes áreas desérticas e semi-áridas.
Por outro lado, mesmo regiões com abundância d'água já enfrentam problemas de escassez relativa de água com o aumento populacional e com o aumento do consumo d'água. Para se ter uma idéia mais apurada da situação o consumo global de água está dobrando a cada 20 anos, mais do que duas vezes a taxa de crescimento da população humana. De acordo com as Nações Unidas, mais do que um bilhão (isto equivale a 1/6 da população mundial) de pessoas já não tem acesso à água para beber. Se as tendências atuais persistirem, por volta de 2025, prevê-se que a demanda por água doce será 56% maior que a quantidade de água atualmente disponível.
Mas isso não é tudo. A água que sai pela torneira de nossas casas todos os dias já tem um preço de dez a cem vezes maior do que era nos anos 90. Bem vindo ao mundo da privatização da água, onde água doce é tratada como uma commodity (produtos primários de grande importância econômica, como algodão, soja e minério de ferro) comercializada e vendida no mercado internacional na mais alta cotação. Os preços acabam sendo ditados pelas cotações dos principais mercados: Londres, Nova York e Chicago. Você não pode mais usar uma dádiva dada por Deus e beber água de uma fonte da montanha, mas, ao contrário, você terá de pagar um pedágio por beber das nossas fontes, ou melhor, da fonte de algum empresário que possua a concessão para explora-la.
O Banco Mundial recentemente adotou uma política de privatização e cobrança para recuperação total do custo da água. Essa política está causando grande desconforto em muitos países de Terceiro Mundo (entre eles o Brasil), que temem que seus cidadãos não sejam capazes de pagar por uma água que visa lucro.
As finitas fontes de água fresca (menos do que metade de 1% do total do estoque de água do mundo) estão sendo divergidas, depredadas e poluídas tão rapidamente que, até o ano 2025, dois terços da população do mundo estará vivendo em um estado de séria privação de água. Os governos estão liberando o controle de seus suprimentos de água domésticos ao participarem de tratados de comércio tais como North American Free Trade Agreement (NAFTA) e em instituições tais como a World Trade Organization (WTO).
Esses "acordos" dão a corporações transnacionais o direito sem precedente à água. As corporações multinacionais reconhecem essas tendências e estão tentando monopolizar os suprimentos de água ao redor do mundo, assim como fazem atualmente com o petróleo, telefonia, remédios entre outros. A cada dia, pessoas morrem na fila de hospitais a espera de atendimento e remédios, pela simples escassez de recursos do governo para adquirir fármacos destas multinacionais. Estas vêem apenas o lucro; humano só a figura dos presidentes americanos nas notas de dólares. Infelizmente assim será com a água!


Juliano Costa Gonçalves
Paulistano, Cientista Social, Mestrando no Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) na área de Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente.
e-mail: jcosta@eco.unicamp.br

Marçal Rogério Rizzo
Jalesense, Economista, Mestrando no Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) na área de Economia Social e do Trabalho.
e-mail: rizzo@eco.unicamp.br

Oswaldo Natalin Júnior
Jalesense, Engenheiro Civil, Mestrando na Faculdade de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) na área de Saneamento e Ambiente.
e-mail: natalinj@fec.unicamp.br

Jornal de Jales, 07 de outubro de 2001, nº1.919, p. 1-2

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