Estamos enfrentando
uma crise de energética. A privatização do setor
de distribuição aumentou o preço da energia e
não mobilizou recursos para investimentos em geração.
A situação se torna mais grave quando pensamos que os
preços da energia elétrica tenham aumentado duas ou
três vezes desde o início do século. Porém,
não queremos falar da crise energética. Queremos falar
sobre a escassez de um recurso indispensável à vida:
a água.
Estamos, também, enfrentando uma escassez de água. É
estranho falar de escassez de água em um país como o
nosso. Porém, é necessário pontuar que a distribuição
de água pelo território nacional é bastante irregular
com áreas de grande abundância - como a Amazônia
- e outras de elevada escassez - como o semi-árido nordestino.
Mesmo a região sudeste tem enfrentado a falta d'água
em cidades como São Paulo, por exemplo. No mundo essa situação
é pior ainda com grandes áreas desérticas e semi-áridas.
Por outro lado, mesmo regiões com abundância d'água
já enfrentam problemas de escassez relativa de água
com o aumento populacional e com o aumento do consumo d'água.
Para se ter uma idéia mais apurada da situação
o consumo global de água está dobrando a cada 20 anos,
mais do que duas vezes a taxa de crescimento da população
humana. De acordo com as Nações Unidas, mais do que
um bilhão (isto equivale a 1/6 da população mundial)
de pessoas já não tem acesso à água para
beber. Se as tendências atuais persistirem, por volta de 2025,
prevê-se que a demanda por água doce será 56%
maior que a quantidade de água atualmente disponível.
Mas isso não é tudo. A água que sai pela torneira
de nossas casas todos os dias já tem um preço de dez
a cem vezes maior do que era nos anos 90. Bem vindo ao mundo da privatização
da água, onde água doce é tratada como uma commodity
(produtos primários de grande importância econômica,
como algodão, soja e minério de ferro) comercializada
e vendida no mercado internacional na mais alta cotação.
Os preços acabam sendo ditados pelas cotações
dos principais mercados: Londres, Nova York e Chicago. Você
não pode mais usar uma dádiva dada por Deus e beber
água de uma fonte da montanha, mas, ao contrário, você
terá de pagar um pedágio por beber das nossas fontes,
ou melhor, da fonte de algum empresário que possua a concessão
para explora-la.
O Banco Mundial recentemente adotou uma política de privatização
e cobrança para recuperação total do custo da
água. Essa política está causando grande desconforto
em muitos países de Terceiro Mundo (entre eles o Brasil), que
temem que seus cidadãos não sejam capazes de pagar por
uma água que visa lucro.
As finitas fontes de água fresca (menos do que metade de 1%
do total do estoque de água do mundo) estão sendo divergidas,
depredadas e poluídas tão rapidamente que, até
o ano 2025, dois terços da população do mundo
estará vivendo em um estado de séria privação
de água. Os governos estão liberando o controle de seus
suprimentos de água domésticos ao participarem de tratados
de comércio tais como North American Free Trade Agreement (NAFTA)
e em instituições tais como a World Trade Organization
(WTO).
Esses "acordos" dão a corporações transnacionais
o direito sem precedente à água. As corporações
multinacionais reconhecem essas tendências e estão tentando
monopolizar os suprimentos de água ao redor do mundo, assim
como fazem atualmente com o petróleo, telefonia, remédios
entre outros. A cada dia, pessoas morrem na fila de hospitais a espera
de atendimento e remédios, pela simples escassez de recursos
do governo para adquirir fármacos destas multinacionais. Estas
vêem apenas o lucro; humano só a figura dos presidentes
americanos nas notas de dólares. Infelizmente assim será
com a água!
Juliano Costa
Gonçalves
Paulistano, Cientista Social, Mestrando no Instituto de Economia da
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) na área de Desenvolvimento
Econômico, Espaço e Meio Ambiente.
e-mail: jcosta@eco.unicamp.br
Marçal
Rogério Rizzo
Jalesense, Economista, Mestrando no Instituto de Economia da Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP) na área de Economia Social e
do Trabalho.
e-mail: rizzo@eco.unicamp.br
Oswaldo Natalin
Júnior
Jalesense, Engenheiro Civil, Mestrando na Faculdade de Engenharia
Civil da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) na área
de Saneamento e Ambiente.
e-mail: natalinj@fec.unicamp.br