A semana do Meio Ambiente é
uma ótima oportunidade para avaliar as formas como estamos cuidando
dos nossos recursos naturais. Recursos esses dos quais dependemos para
garantir a produção e, portanto, a renda das nossas atividades,
principalmente na agricultura.
Você tem idéia da
quantidade de água que é gasta para produzir 1 Kg de carne?
Pois é, passa dos 100.000 litros.
Dias atrás estive na Câmara
Municipal de Urânia fazendo palestra em que foram relatadas as conclusões
dos trabalhos que a CAMU e a Casa da Agricultura, em conjunto com o CTH
e a USP vem realizando, desde 1998, para conhecer e acompanhar a situação
do Jataí, que é do nosso conhecimento anualmente através
dos conflitos que ali ocorrem em épocas de estiagem.Na região
apenas 7% do que chove transforma-se em vazão dos rios. Esses são
números do Plano Estadual de Recursos Hídricos, conforme
o qual, do total de 1200 mm de chuvas anuais que temos na região
apenas 84 mm, o que equivale à média de 23,2 l/s para uma
bacia hidrográfica com 8,7 Km2, como é o caso da região
produtora do Jataí.
Tal situação,
pode ser mudada apenas em parte pois decorre de uma combinação
de fatores além das chuvas como: clima, evaporação,
temperatura média, além da forma como é feita a
conservação e a preservação do solo e da
vegetação.
Apenas a título de comparação,
enquanto na região uma bacia hidrográfica com 100 Km2
tem a vazão média de 600 l/s, na região do Vale
do Ribeira, uma bacia hidrográfica com os mesmos 100 Km2 alcança
a vazão média de até 3.500 l/s. Além de
outros fatores, lá a chuva média anual é de 3.000
mm/ano.
No entanto, a região do
Vale do Ribeira, em função das condições
de umidade, principalmente , não é propícia para
o cultivo de muitas frutas que em nossa região se desenvolvem
de forma maravilhosa.
Assim, é tudo uma questão
de se conhecer e de se trabalhar em equilíbrio com o ambiente.
Qual é afinal a parcela
de possibilidade que temos de mudar a situação do Ribeirão
Jataí?
Para responder a essa pergunta
procurei descrever os trabalhos mais recentes que vem sendo realizados
na região.A partir do ano 2000 passamos a monitorar o Jataí
e um outro ribeirão da região foi adotado como referência
para a comparação de duas diferentes situações:
com e sem irrigação. E a conclusão é dramática!
Teoricamente, se realizamos
a medição de vazão em dois rios com a mesma área
de bacia, na mesma região, e com as mesmas chuvas, essas vazões
deveriam ser sempre iguais.
Se medirmos 5 no rio A, devemos
obter 5 também no rio B, se medirmos 27 no rio A, devemos obter
27 também no rio B, e assim por diante.
O resultado dessa comparação
seria um gráfico como o da Figura A.
Já para a situação
real que resultou do levantamento realizado no Ribeirão Jataí
em comparação a outro que foi adotado como referência,
a situação é muito diferente. Como se pode ver
na Figura B há uma acentuada tendência na distribuição
dos pontos para o lado do chamado ribeirão de referência,
ou seja, a vazão dele é sempre muito maior do que a do
ribeirão Jataí no mesmo dia, e essa diferença não
decorre apenas do uso da irrigação, mas também
a intensa degradação ambiental da bacia.
Assim, organizar uma ação
coletiva de recuperação é uma providência
da maior urgência na região do Jataí se quiserem
continuar a produzir na região.
O solo não retém
água das chuvas.
Somente com a recomposição
da proteção vegetal da bacia - mata ciliar ao longo dos
rios, terraceamento nas propriedades e medidas de proteção
do solo cultivado para reter a umidade - , poderemos fazer com que a
água das chuvas (que já são poucas em comparação
com outras regiões) entrem no solo quando chove, ao invés
de escorrer superficialmente, indo embora para longe do local em que
poderia ser utilizada. Essa é a forma que poderá melhorar
a situação.
O estudo comparado das duas bacias
em Urânia mostrou que no período de estiagem, quando mais
água é necessária para irrigação,
há uma perda de mais 600.000 m3 na bacia do Jataí, que
poderia ser utilizada para produção.
Seria o suficiente para acabar
com os conflitos que anualmente ocorrem na região.
Além disso devemos levar
em conta que a água tem limite. A vazão média do
ribeirão Jataí é de 35,6 l/s quando poderia ser
60,9 l/s, se houvesse o retorno da proteção vegetal. Essa
diferença de 25,3 l/s, além de representar a degradação
ambiental, representa a perda total de mais 600.000 m3 no período
de fevereiro a outubro de cada ano.
Basta calcular quanto esse volume
representa em R$/ano de produção!
Além disso, existem também
problemas na região decorrentes do uso de água em excesso,
e isso, além dos prejuízos ambientais que o produtor não
vê, envolvem maior consumo de energia, maior consumo de fungicidas
que surgem com o excesso de umidade nas raízes, maior necessidade
de reposição de nutrientes que são carregados pela
água em excesso e assim vai longe essa lista. São muitos
os motivos econômicos que justificam a redução no
consumo de água. Além disso tudo, os próprios produtores
já sabem que, em anos em que ocorrem menos chuvas, o produto
final colhido é de melhor qualidade.
Assim a melhoria no uso racional
da água com a redução do consumo praticado atualmente
(4,34 mm/dia) para 2,0 mm/dia (EMBRAPA, 1998) seria o ideal para essa
região.
A conclusão é de
que para a nossa região preservar é sinônimo de
produção, e mais, para isso é necessário
conhecer e respeitar os limites e o equilíbrio da natureza.
Quando chegarmos a essa situação
de equilíbrio, poderemos dizer que estamos realizando a tão
desejada sustentabilidade ambiental.
Paulo
Augusto Romera (Engenheiro do Centro Tecnológico de Hidráulica/DAEE)
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