PRESERVAR TAMBÉM É PRODUZIR

Por Paulo Augusto Romera

A semana do Meio Ambiente é uma ótima oportunidade para avaliar as formas como estamos cuidando dos nossos recursos naturais. Recursos esses dos quais dependemos para garantir a produção e, portanto, a renda das nossas atividades, principalmente na agricultura.
Você tem idéia da quantidade de água que é gasta para produzir 1 Kg de carne? Pois é, passa dos 100.000 litros.
Dias atrás estive na Câmara Municipal de Urânia fazendo palestra em que foram relatadas as conclusões dos trabalhos que a CAMU e a Casa da Agricultura, em conjunto com o CTH e a USP vem realizando, desde 1998, para conhecer e acompanhar a situação do Jataí, que é do nosso conhecimento anualmente através dos conflitos que ali ocorrem em épocas de estiagem.Na região apenas 7% do que chove transforma-se em vazão dos rios. Esses são números do Plano Estadual de Recursos Hídricos, conforme o qual, do total de 1200 mm de chuvas anuais que temos na região apenas 84 mm, o que equivale à média de 23,2 l/s para uma bacia hidrográfica com 8,7 Km2, como é o caso da região produtora do Jataí.
 



Tal situação, pode ser mudada apenas em parte pois decorre de uma combinação de fatores além das chuvas como: clima, evaporação, temperatura média, além da forma como é feita a conservação e a preservação do solo e da vegetação.
Apenas a título de comparação, enquanto na região uma bacia hidrográfica com 100 Km2 tem a vazão média de 600 l/s, na região do Vale do Ribeira, uma bacia hidrográfica com os mesmos 100 Km2 alcança a vazão média de até 3.500 l/s. Além de outros fatores, lá a chuva média anual é de 3.000 mm/ano.
No entanto, a região do Vale do Ribeira, em função das condições de umidade, principalmente , não é propícia para o cultivo de muitas frutas que em nossa região se desenvolvem de forma maravilhosa.
Assim, é tudo uma questão de se conhecer e de se trabalhar em equilíbrio com o ambiente.
Qual é afinal a parcela de possibilidade que temos de mudar a situação do Ribeirão Jataí? 
Para responder a essa pergunta procurei descrever os trabalhos mais recentes que vem sendo realizados na região.A partir do ano 2000 passamos a monitorar o Jataí e um outro ribeirão da região foi adotado como referência para a comparação de duas diferentes situações: com e sem irrigação. E a conclusão é dramática!
 



Teoricamente, se realizamos a medição de vazão em dois rios com a mesma área de bacia, na mesma região, e com as mesmas chuvas, essas vazões deveriam ser sempre iguais.
Se medirmos 5 no rio A, devemos obter 5 também no rio B, se medirmos 27 no rio A, devemos obter 27 também no rio B, e assim por diante.
O resultado dessa comparação seria um gráfico como o da Figura A.
Já para a situação real que resultou do levantamento realizado no Ribeirão Jataí em comparação a outro que foi adotado como referência, a situação é muito diferente. Como se pode ver na Figura B há uma acentuada tendência na distribuição dos pontos para o lado do chamado ribeirão de referência, ou seja, a vazão dele é sempre muito maior do que a do ribeirão Jataí no mesmo dia, e essa diferença não decorre apenas do uso da irrigação, mas também a intensa degradação ambiental da bacia.
Assim, organizar uma ação coletiva de recuperação é uma providência da maior urgência na região do Jataí se quiserem continuar a produzir na região.
O solo não retém água das chuvas.
Somente com a recomposição da proteção vegetal da bacia - mata ciliar ao longo dos rios, terraceamento nas propriedades e medidas de proteção do solo cultivado para reter a umidade - , poderemos fazer com que a água das chuvas (que já são poucas em comparação com outras regiões) entrem no solo quando chove, ao invés de escorrer superficialmente, indo embora para longe do local em que poderia ser utilizada. Essa é a forma que poderá melhorar a situação.
O estudo comparado das duas bacias em Urânia mostrou que no período de estiagem, quando mais água é necessária para irrigação, há uma perda de mais 600.000 m3 na bacia do Jataí, que poderia ser utilizada para produção.
Seria o suficiente para acabar com os conflitos que anualmente ocorrem na região.
Além disso devemos levar em conta que a água tem limite. A vazão média do ribeirão Jataí é de 35,6 l/s quando poderia ser 60,9 l/s, se houvesse o retorno da proteção vegetal. Essa diferença de 25,3 l/s, além de representar a degradação ambiental, representa a perda total de mais 600.000 m3 no período de fevereiro a outubro de cada ano.
Basta calcular quanto esse volume representa em R$/ano de produção!
Além disso, existem também problemas na região decorrentes do uso de água em excesso, e isso, além dos prejuízos ambientais que o produtor não vê, envolvem maior consumo de energia, maior consumo de fungicidas que surgem com o excesso de umidade nas raízes, maior necessidade de reposição de nutrientes que são carregados pela água em excesso e assim vai longe essa lista. São muitos os motivos econômicos que justificam a redução no consumo de água. Além disso tudo, os próprios produtores já sabem que, em anos em que ocorrem menos chuvas, o produto final colhido é de melhor qualidade.
Assim a melhoria no uso racional da água com a redução do consumo praticado atualmente (4,34 mm/dia) para 2,0 mm/dia (EMBRAPA, 1998) seria o ideal para essa região.
A conclusão é de que para a nossa região preservar é sinônimo de produção, e mais, para isso é necessário conhecer e respeitar os limites e o equilíbrio da natureza.
Quando chegarmos a essa situação de equilíbrio, poderemos dizer que estamos realizando a tão desejada sustentabilidade ambiental.

 


 

    Paulo Augusto Romera (Engenheiro do Centro Tecnológico de Hidráulica/DAEE)

Jornal de Jales, 10 de junho de 2001, nº 1.902, pág.1-12

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