CRIAÇÃO DE VARIEDADES DE UVAS EM SEMENTES ANIMA PESQUISADORES |
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A estação
Experimental da Embrapa, em Jales, terá condições de, a curto prazo, viabilizar soluções
tecnológicas para a produção de uvas sem sementes com nível de competitividade equivalente
a qualquer outro país. A declaração foi feita ao Jornal de Jales pelo economista José Fernando da Silva Protas, chefe-geral do Centro Nacional de Uva e Vinho da Embrapa, de Bento Gonçalves - Rio Grande do Sul, ao qual a Estação Experimental de Jales é ligada. Protas esteve em Jales para fazer um balanço das atividadesdesenvolvidas nos últimos tempos e, segundo ele, as pesquisas mostram que o trabalho está no caminho certo. Para ele, os resultados obtidos na Estação Experimental de Jales mostram a enorme capacidade da pesquisa científica brasileira encontrar soluções para os problemas, "habitando o setor produtivo a enfrentar o novo contexto de mercado globalizado e competitivo". Tendo em vista o futuro, ele é taxativo: " não temos dúvida de que a viticultura da região estará enfocada na produção de uvas enfocada na produção de uvas sem sementes , pois é esse tipo de produto que o mercado internacional e nacional querem". O chefe-geral da Embrapa Uva e Vinho é o personagem da Entrevista da Semana, |
Produtores de uva, técnicos e jornalistas estiveram na Estação
Experimental da Embrapa, no Córrego da Barra Bonita, em Jales, para ouvir o balanço das atividades
desenvolvidas por aquele centro de pesquisas no sentido de criação de variedades de uvas sem sementes. JJ. - Quando o deputado Vadão e o prefeito Guisso começaram a lutar pela instalação de um Centro experimental da Embrapa em Jales, a atitude deles foi considerada, em muitos segmentos, um delírio, uma maluquice. Seis anos depois, qual o balanço que o senhor faz? Valeu a pena? PROTAS: - Pela importância que tem hoje no desenvolvimento da pesquisa vitícola para as condições tropicais brasileiras, a Estação Experimental de Jales ( E. E. Jales ) já é uma referência nacional. Todos os técnicos e empresários envolvidos com a produção de uvas de mesa no Brasil conhecem o trabalho que está sendo desenvolvido e aguardam com expectativa seus resultados, principalmente com relação às uvas apirínicas ( sem sementes ). Se valeu a pena? Já dizia o poeta português Fernando Pessoa " Sempre vale a pena quando a alma não é pequena ". No caso da E.E.Jales, nem a alma e nem o futuro são pequenos. Pelos resultados já alcançados e pelo incremento que o produto de pesquisa aqui desenvolvido deverão ter nos próximos anos eu diria que valeu a pena e, mais do que isso, não criar esta Estação Experimental teria sido uma grande perda para região de Jales e para a viticultura tropical brasileira. JJ. - Porque o senhor reuniu produtores e técnicos, dia 15 de setembro, na Estação Experimental de Jales? PROTAS: - É uma atividade de rotina nas instituições de pesquisa reunir técnicos,
produtores, lideranças e imprensa sempre que se tem algum resultado interessante. No caso da reunião
do dia 15, apresentamos aos convidados os resultados parciais que já obtive no programa de criação
de variedades de uvas sem sementes. A data foi escolhida por se tratar da última oportunidade de mostrar
as uvas ainda nas plantas. Pelo que podemos avaliar, as pessoas que se fizeram presentes ficaram entusiasmadas
com o trabalho que está sendo desenvolvido e, este era exatamente o nosso objetivo: prestar contas e mostrar
que estamos no caminho certo e que logo seremos capazes de disponibilizar soluções tecnológicas
para a produção de uvas sem sementes, com nível de competitividade equivalente a qualquer
outro país. JJ. - E sob o ponto de vista econômico? PROTAS: - Sob o ponto de vista econômico, os resultados que temos obtido com as pesquisas desenvolvidas na E.E. Jales não são apenas promissores, pois hoje a produção da variedade niágara é uma realidade e, todos sabemos que, os produtores que estão adotando tecnologia correta, têm nesta variedade uma importante fonte de renda. Entretanto, projetando a atividade vitícola da região para o futuro, não temos dúvida que a viticultura da região estará enfocada na produção de uvas sem sementes, pois é este tipo de produto que o mercado internacional e nacional querem, assim sendo, não temos dúvidas que a curto prazo estaremos disponibilizando tecnologias capazes de consolidar técnicas economicamente esta importante atividade aqui na região. JJ.- Os produtores da região estão sensíveis ao trabalho da Embrapa? PROTAS: - Para nós que já estamos a mais de 20 anos envolvidos com a pesquisa agropecuária
é normal encontrarmos pessoas (produtores, técnicos, políticos) que só acreditam nas
pesquisas depois dos resultados estarem disponíveis e resolvendo os seus problemas. JJ.- Em que medida as constatações dos técnicos da Embrapa poderão contribuir para melhorar a produtividade e, claro, a rentabilidade dos produtores? PROTAS:- Eu acredito que atualmente a questão da rentabilidade da atividade vitícula está mais relacionada e dependente do comportamento do mercado do que da produtividade propriamente dita. Acontece que a nossa matriz produtiva baseada nas variedades Itália e suas mutações (Rubi, Benitaka e Brasil),por terem sementes. Encontram dificuldades crescentes de comercialização, tanto no mercado externo quanto interno. Conseqüentemente os preços pagos pela uva são baixos. No quadro atual, entendo que a nossa grande contribuição será no sentido de viabilizar tecnologicamente a mudança desta matriz produtiva, o que já conseguimos em parte com a variedade niágara, mas que será defitiva com as variedades sem sementes. JJ.- A uva de Jales é somente de mesa ou pode ser transformada em vinho, doces, compotas, etc? PROTAS: - Em Jales podemos produzir uvas com o objetivoque bem entendermos desde que haja mercado para absorver esta produção. Por exemplo, nós da Embrapa entendemos que esta região tem potencial interessante para produção de uvas para suco, resta saber se há empresários interessados em investir nesta área, pois neste caso é imprecindível a instalação de uma agroindústria para o processamento. JJ.- O que é possível fazer, sob a ótica da pesquisa científica, para que a uva produzida na região de Jales seja competitiva no exterior? PROTAS: - Em termos de produção agrícola acredito, sinceramente, que nos próximos anos, com a consolidação das variedades sem sementes a região terá condições de produzir uvas dentro dos padrões exibidos internacionalmente, entretanto, isto é necessário mas não é suficiente para transformar a região em exportadora de uvas. As exigências do mercado internacional de frutas, principalmente Estados Unidos da América e Europa, são muito grandes e, se quisermos entrar para valer neste mercado, deveremos nos preparar e organizar para tanto como já fizeram os produtores do pólo Petrolina/ Juazeiro através da Val Export. JJ.- Na sua opinião, o nível dos produtos de Jales é bom em termos tecnológicos? PROTAS: - Acho que o nível dos produtores daqui é igual ao dos das demais regiões produtoras
de uvas de mesa. É claro que, com o comportamento do mercado nos últimos anos houve um desistímulo,
com reflexos inclusive na tecnologia de produção, entretanto, ninguém desaprende a produzir.
Bastará que algo de novo e bom surja (como as uvas sem sementes que estamos criando) para que haja uma retomada
da atividade com alto nível tecnológico. Esta região já pode ser considerada como tradicional
produtora de uvas de qualidade e, só deixará de sê-lo se o mercado não for capaz de
remunerar a atividade em níveis compatíveis. |
Jornal de Jales, 15 de outubro de 2000/ pág.1-5 |
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