QUALIDADE DE ENSINO SEMPRE EXISTIU NA ESCOLA TÉCNICA, AFIRMAM PROFESSORES DA UNESP

 
Projeto bancado pela FAPESP melhora Escola Técnica
Um projeto bancado pela Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo, desenvolvido pela Escola Técnica de Jales, com a orientação da UNESP de Ilha Solteira, ajudou a melhorar aquela estabelecimento de ensino não somente sob o ponto de vista das instalações físicas, quanto de qualidade de ensino e qualificação dos docentes.
Neste último aspecto, a transformação salta à vista: dos professsores da ETE, oito concluíram ou estão concluindo suas dissertações de mestrado e um já começou o doutorado.
Para ter acesso aos R$ 160 mil da FAPESP, o projeto da Escola Agrícola concorreu com 150, dos quais 25 foram aprovados, sendo apenas dois de ensino técnico agricola. 

 
Qualidade de ensino sempre existiu na Escola Técnica, afirmam professores da UNESP
Não é exagero descrever o clima reinante quinta-feira, dia 17, na Escola Técnica de Jales, como de incontida euforia durante a avaliação do projeto "Ensino Público: Melhoria na Qualidade de Ensino de Primeiro e Segundo Graus". Dos professores Maria Aparecida Anselmo Tarsitano e Carlos Augusto Moraes e Araújo, da UNESP, ao diretor da escola, Fernando Pereira, passando por docentes, alunos e ex-alunos, todos reconheceram: a escola passou por importantes transofrmações nos últimos quatro anos, agregando o que o vice-diretor Luís Carlos Floriano definiu como conhecimento, auto-estima e ousadia.
O projeto, financiado pela Fundação de Apoios à Pesquisa no Estado de São Paulo, FAPESP, foi orientado pela professora Maria Aparecida Anselmo Tarsitano, engenheira agrônoma formada pela UNESP de Jaboticabal, com mestrado em Economia Agrária na ESALQ/USP de Piracicaba e doutorado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, de São Paulo.
No dia-a-dia, ela é professora do Departamento de Fitotecnia, Economia e Sociologia Rural do curso de Agronomia da Faculdade de Engenharia da UNESP, campus de Ilha Solteira. Eis o que ela revelou ao JORNAL DE JALES sobre o desenvolvimento e a conclusão do projeto... (D.R.J.)
JORNAL DE JALES - Por que a senhora aceitou orientar a Escola Técnica de Jales na execução do projeto?
PROFa MARIA APARECIDA - Na verdade, o interesse primeiro foi dos docentes da área de Economia e Sociologia Rural do curso de agronomia da UNESP de Ilha Solteira com o Programa Especial da FAPESP "Ensino Público: Melhoria na Qualidade de Ensino de Primeiro e Segundo Graus". Este fato, aliado à existência de vários ex-alunos de nosso curso de agronomia atuando como docentes na ETE de Jales, foram os principais motivos que levaram a apresentação de um projeto dentro deste Programa. Deve-se ressaltar o especial interesse demonstrado tanto por parte da direção, na pessoa de seu diretor Fernando José Pereira, como dos docentes pela realização desta pesquisa. Em 1996, quando iniciou o Programa, 150 projetos foram apresentados à FAPESP, dos quais somente 25 foram aprovados e destes apenas 2 relacionados ao ensino técnico agrícola.
JJ - Quatro anos depois os objetivos forma alcançados? Quais?
Profa Maria Aparecida - Em grande medida sim. Inicialmente foi realizado um amplo diagnóstico sobre as condições da Escola tanto em termos de infra-estrututra, qualificação do pessoal docente, aspectos didáticos pedagógicos, entre vários outros. O projeto possibilitou investimentos em equipamentos e recursos audio visuais, material de laboratório e investimentos na qualificação do corpo docente, através de um programa de formação continuada cujo principal mérito foi promover a integração dos docentes do núcleo comum e do profissionalizante, agora aglutinados num projeto comum, que foi capaz de evidenciar o cidadão técnico como fruto deste trabalho coletivo. Ocorre também que, em decorrência de mudanças conjunturais como a promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, dos Novos Parâmetros Curriculares para o Ensino Técnico, a Escola passou por profundas mudanças institucionais em termos de grade curricular, carga horária, em suma, no próprio perfil dos profissionais ali formados. Neste sentido, o projeto teve que se adaptar sem perder de vista seus propósitos maiores.
JJ - Concluído o projeto, já é possível apostar na qualidae do ensino a partir de agora?
Profa Maria Aparecida - É preciso ressaltar que a qualidade sempre existiu e o que o projeto se propôs foi promover a melhoria desta qualidade, que é, aliás, o próprio objetivo do Programa. Sem dúvida, ao se observar as condições físicas da Escola até 1996 e compará-las com as existentes hoje, é evidente a transformação havida. O projeto promoveu melhorias significativas tanto na dotação de equipamentos como na melhor capacitação dos docentes. Como contrapartida o próprio CEETEPS - Centro Paula Sousa, motivado por estes investimentos promoveu melhorias nas condições físicas das instalações da ETE. Este conjunto de melhorias acabam significando um ensino de melhor qualidade.
JJ - Uma das preocupações da FAPESP era estabelecer relação entre as escolas técnicas e o mundo real. O trabalho desenvolvido atingiu os objetivos?
Profa Maria Aparecida - Na verdade esta era uma preocupação da pesquisa, ou seja, de que o profissional formado por esta escola tivesse a melhor inserção possível no mercado de trabalho, no mundo real. Neste sentido foi efetuada uma pesquisa bastante abrangente com potenciais empregados do setor público e privado da região que apontou diversos indicadores desejáveis no perfil deste profissional. Tais resultados foram divulgados internamente e acabaram por se constituir em objetos de trabalho dos docentes em suas diciplinas específicas, e, além disso, possibilitaram a proposição de um novo curso, por parte da direção da ETE de Jales, intitulado : "Qualificação em Agronegócios".
JJ- Os dados estão à mesa. É possível apostar na capacidade dos alunos como geradodes de empregos?
Profa Maria Aparecida - Isto seria o mais desejável. No entanto, a volta de parte dos formandos para as propriedades rurais de suas famílias, para alí atuarem como gestores de um negócio agrícola, introduzindo inovações e com isto, aumentando a renda e a oferta de empregos já seria uma grande evolução.
Não há entretando, indicadores de que tais tranformações estejam ocorrendo e grande maioria dos egressos ainda continue a empregar-se no mercado de trabalho não como um profissional autônomo e sim como empregados.
JJ - Qual sua opinião a respeito do nível dos professores da Escola Técnica de Jales?
Profa Maria Aparecida - Os professores preocupados com a questão do ensino-aprendizagem estão sempre participando de palestras, cursos de curta duração, especialização e pós-graduação, sendo que só na UNESP de Ilha Solteira 8 docentes já concluíram ou estão concluindo suas dissertações de mestrado. Outro dado interessante é que houve muito pouca variação do corpo docente existente na escola durante estes quatro anos, o que equivale a dizer que a grande maioria destes acompanhou e vivenciou as ações possibilitadas pelo projeto. De modo geral, todos demonstram um grande interesse por atividades de capacitação permanente, reconhecendo que o professor não pode nunca parar de aprender.
JJ - Diz-se que é muito difícil o acesso das escolas públicas aos acervos da FAPESP. Verdade ou mito?
Profa Maria Aparecida - Se a pergunta se refere às escolas de primeiro e segundo graus, ela é procedente, ou seja, o acesso destas escolas aos recursos públicos, via FAPESP, eram quase que inexistentes, porque seu objetivo sempre foi o de financiar atividades de pesquisa. A partir de 1996, como o Programa de Ensino Público, a FAPESP, disponibilizou recursos para atividades de pesquisa voltadas para a realidade do ensino de primeiro e segundo graus no Estado de São Paulo. As pessoas interessadas em viabilizar projetos desta natureza precisam acreditar mais em suas capacidades e tentar, colocando mãos a obra. É necessário elaborar projetos, participar e não desanimar perante uma eventual resposta negativa. A ETE de Jales é um exemplo concreto de que isto é perfeitamente possível e prova disto  é o fato de que a escola obteve dois outros importantes projetos financiados por outras instituições. Um deles, o ensino Agrotécnico - Protagonista da mudança no meio Rural do Novo Milênio foi premiado em concurso promovido pelo programa Vitae de Educação e Cultura.
JJ - Uma das maiores críticas à destinação de dinheiro público ao mundo acadêmico é que os resultados demoram a transpor os limites das universidades? A senhora concorda?
Profa Maria Aparecida - As universidades de modo geral têm melhorado sua eficiência na produção de pesquisa e precisam melhorar muito em termos de divulgação de seus resultados. No entanto, não utilizam o dinheiro público só para pesquisa, sendo a formação dos alunos um retorno direto que ela fornece a sociedade e o trabalho de extensão universitária em algumas áreas tem sido de enorme relevância para a sociedade, como por exemplo os hospitais universitários. A FAPESP vem, nos últimos anos, se preocupando em intesificar as relações entre o sitema de pesquisa do Estado de São Paulo e a sociedade em geral, criando programas que venham a contribuir diretamente com o diagnóstico ou solução de problemas da sociedade. Entre estes, podemos citar o "Ensino Público", "Políticas Públicas", "Inovações Tecnológicas na Pequena Empresa - PIPE", "Projeto Genoma/FAPESP", entre outros.
Jornal de Jales, 20/08/2000, número 1.861, p.1.5.

 
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