CONTEXTO AGRÍCOLA: DEONEL ROSA JUNIOR


 
         O Lançamento oficial do projeto do Canal de Irrigação, dia 13, em Estrela d'Oeste, serviu de palco para que os fruticultores da região de Jales tornassem público aquilo que já se sabia nos bastidores: a grave crise vivida pelo setor.
          Sem meias palavras, o presidente da Cooperativa Jales, Yukimitsu Yoshida, expôs para uma platéia atenta, composta por produtores, prefeitos, vereadores e três deputados, todo o drama de quem produz frutas na região.
         No discurso, publicado no dia seguinte no JORNAL DE JALES, Yoshida, primeiramente, situou o que representa a fruticultura na região - a atividade movimenta R$ 100 milhões por ano, gerando 14 mil empregos diretos e 42 mil indiretos, números decorrentes de uma produção de 500 mil toneladas de frutas.
         Depois, partiu para o ataque, lembrando que a fruticultura, na região de Jales, nasceu, cresceu e se consolidou por suas próprias pernas, sem nenhum projeto de desenvolvimento sustentado a ampará-las.
          Por conta dessa falta de projetos governamentais e a série de outros problemas ocorridos nos últimos três anos, que levaram a atividade a uma profunda crise financeira e social, a fruticultura regional está à beira do naufrágio, sustentou o presidente da Cooperativa.
          O Significado do pronunciamento de Yoshida vai muito além do que foi focalizado na Câmara Municipal de Estrela d' Oeste. Na verdade, os fruticultores que, historicamente, sempre tiveram vergonha de admitir que os negócios iam mal, resolveram, pela primeira vez, encarar a realidade e berrar a plenos pulmões que estão no limite.
          Sabe-se casos, muitos dos quais contados pelo próprio presidente da Cooperativa Jales, simplesmente dramático e que sintetizam o mau momento de quem produz frutas na região. Alguns de seus vizinhos simplesmente fecharam as porteiras da propriedade e foram para o Japão. Outros foram trabalhar como diaristas em outras regiões.
          Assim, antes que todos quebrem, resolveram expor as víceras, propondo algumas medidas capazes de revitalizar o setor. Para eles, a fruticultura só sobreviverá na região se houver alongamento das dívidas existentes, recursos de custeio e investimentos compatíveis com a atividade, adequação do modelo tecnológico de produção de fruta na região face a exigências de mercado e competitividade (pesquisa, capacitação do produtor, assistência técnica e extensão rural) e, finalmente, apoio à comercialização, e exportação.
           Eles reconhecem quem um primeiro passo neste sentido já foi dado pelo prefeito José Carlos Guisso, que, antesmesmo de ser empossado, correu para Brasília e obteve a promessa do ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Aloysio Nunes Ferreira Filho, de incluir Jales no Mapeamento da Fruticultura Brasileira, tornando a região um pólo frutícola, como exitem outros 32 espalhados pelo país.
          Reconhecem também que um projeto da envergadura como o do Canal de Irrigação pode realmente multiplicar por muitas vezes a já conhecida capacidade e qualidade produtiva da fruticultura regional.
         
Mas, insistem que, sem a revitalização da atividade, que precisa de dinheiro novo para sair do sufoco, tanto a implantação do pólo frutícola quanto a construção do canal, por si só, não resolverão o problema. Daí porque, tal qual o lutador de boxe que apanhou 14 rounds, os produtores de uvas se lembraram de que ainda têm braços e resolveram, com o fiapo de forças que restam, tentar o nocaute da crise no 15º e último round. Para isso, estão peitando até mesmo os bancos credores, algo impensável há dois ou três meses.

Jornal de Jales, nº 1882, 21 de janeiro de 2001, p.1.3