PRESIDENTE DA EMBRAPA DIZ QUE CULTIVAR UVAS SEM SEMENTES
É MAIS BARATO


O lançamento de três variedades de uvas sem sementes, desenvolvidas pela Estação Experimental de Viticultura Tropical de Jales é um evento de repercussão nacional pois as mesmas poderão ser desenvolvidas em outras regiões do país, de clima semelhante e com custos menores que outras variedades produzidas na região.
Foi o que informou o presidente da Embrapa, Clayton Campanhola, que esteve em Jales, no último dia 19. Ele disse que o lançamento dessas variedades, "realmente, é algo inédito no Brasil, porque nós não tínhamos nenhuma variedade sendo cultivada e agora temos estas, com uma série de vantagens, pois além das possibilidades no mercado interno externo, também temos um custo de produção mais baixo do que a uva Ilália, por exemplo".
Essa é uma grande vantagem para o produtor, que passa a contar com essas variedades oferecidas pela Embrapa, em parceria com a CATI, como afirmou Campanhola, lembrando que a participação dos viticultores nesse processo tembém é muito importante, pois eles experimentam as variedades antes de serem lançadas, com testes de comportamento e potencial de mercado.
A partir de abril, o viticultor já poderá iniciar o plantio de espécies para que as mesmas possam ser colhidas e colocadas no mercado um ano e meio ou dois anos depois, informou Campanhola.
O lançamento dessas três variedades representa, segundo Campanhola, a verdadeira tropicalização da produção de uvas, originalmente de clima temperado ou frio e que estão sendo adaptadas, através de pesquisas e do melhoramento genético, para regiões quentes.
Esse é um grande resultado obitdo pela Estação de Jales, que com o trabalho de seus técnicos permitiu que essas variedades fossem desenvolvidas na metade do tempo, pois uma variedade de uva, segundo Campanhola, se desenvolve em cerca de 15 anos e aqui foram necessários apenas sete.

 
UMA REVOLUÇÃO NA VITICULTURA MUNDIAL
As uvas sem sementes desenvolvidas para cultivo em regiões de clima tropical vão representar uma revolução na viticultura mundial, com o Brasil se consolidando como um grande produtor de uvas de mesa. A afirmação foi feita pelo chefe da Embrapa Uva e Vinho de Bento Gonçalves, José Fernando da Silva Protas, ao receber o título de cidadão jalesense pelos serviços prestados aos viticultores, com benefícios para a economia do municípío, através do trabalho desenvolvido pela Estação Experimental de Viticultura Tropical. A entrega do título aconteceu na sessão especial do dia 19, antes do lançamento das três variedades pesquisadas em Jales.
"A qualidade das uvas que estão sendo lançadas, com sua adaptação às condições tropicais brasileiras, não deixam dúvida nenhuma, nosso espaço nos mercados interno e externo", disse Protas.
Ele afirmou ao Jornal de Jales que boa parte do seu entusiasmo como brasileiro, técnico e pesquisador se deve ao projeto da embrapa desenvolvido na região de Jales. Agora, como cidadão jalesense, se sente ainda mais motivado para continuar lutando pela viticultura brasileira, onde Jales tem o seu espaço que se consolida, com as variedades sem sementes, como um grande pólo prudutor de uvas do país.
 
RECOMENDAÇÕES SANITÁRIAS PARA A IMPLANTAÇÃO DE PARREIRAIS COM AS NOVAS CULTIVARES DE UVAS SEM SEMENTES
As novas cultivares de uvas sem sementes lançadas pela Embrapa Uva e Vinho no último dia 19 - BRS Clara, BRS Morena e BRS Linda - apresentam-se como alternativas promissoras para viticultura de mesa em clima tropical, principalmente para a região de Jales, onde os viticultores estão desestimulados com a atividade devido aos altos custos de produção e aos baixos preços de mercado de cultivares tradicionais, como a Itália, Rubi, Benitaka e Brasil. No entanto, para garantir a produtividade e a qualidade da produção das novas cultivares, o produtor deverá ficar atento às recomendações técnicas.
A sanidade do material vegetal é um dos fatores determinantes da produtividade. O material de propagação das cultivares sem sementes que serão comercializados pela Embrapa Transferência de Tecnologia, borbulhas e prota-enxertos, terão a sanidade garantida, ou seja, serão livres de viroses. Assim, caso o produtor opte pela compra apenas das borbulhas, deverá adquirir porta-enxertos de viveiristas que multipliquem material sadio sob fiscalização dos órgãos oficiais.
A manutenção dos porta-enxertos originais, embora permita a substituição rápida da variedade copa sem interrupção de um ano de produção, oferece grandes riscos, pois se o porta-enxerto estiver infectado, a nova copa também será contaminada. Dessa forma, quando não se tiver a garantia da sanidade do mateiral original, é recomendável o arranquio das plantas e plantio de novo porta-enxertos sadios para serem enxertados com grafos sadios.
É importante ressaltar que não é possível fazer o controle químico das viroses no campo, sendo a aquisição de material de propagação (porta-enxerto e copa) livre de vírus o único modo seguro de se implantar um vinhedo sadio. Sendo assim, é de fundamental importância a idoneidade da origem do material propagativo, pois, no momento da aquisição, dificilmente o material infectado apresentará quaisquer sintomas. Somente com o desenvolvimento das plantas no vinhedo é que o produtor vai se dar conta que adquiriu material contaminado.
Além dos cuidados com as virores, é importante salientar que as novas cultivares de uvas sem sementes têm comportamento similar à cv. Itália em relação às principais doenças fúngicas que atacam a videira, como o míldico (plamopara viticola) e oídio (Unicula necator), devendo-se tomar os devidos cuidados para evitar os danos causados por essas doenças.

Rosemeire de Lellis Naves - Engenheira Agrônoma, doutora em Fitopatologia e Pesquisadora da Embrapa Uva e Vinho/Estação Experimental de Viticultura Tropical, Jales - SP
 
Jornal de Jales, Jales - SP, nº 2.032, 28 de Dezembro de 2003, p. 1-11.



UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA