Em 12 de novembro, muitos dos agricultores começaram a ficar
aliviados em função das chuvas (67mm em dois dias) que
trouxeram a recomposição da umidade do solo, permitindo
que as plantas não mais sofressem o estresse hídrico,
que tanto afeta a produção da agricultura.
Todavia, os produtores de acerola agora enfrentam o problema do excesso
da produção, ou sejam, vivem o drama da concentração
da produção e conseqüentemente da dificuldade em
venderem seus frutos, ainda que de ótima qualidade, pelo simples
fato de que a capacidade de armazenamento das câmaras refrigeradoras
serem limitadas. Em outras palavras, as plantas de acerola não
irrigadas estavam sem produzir e com as chuvas, todas passaram a produzir
ao mesmo tempo.
No caso da acerola, a concentração da produção
ocorre porque nas condições climáticas
da região da Nova Alta Paulista,
a produção se dá normalmente entre 30-35 dias após
as chuvas (ver Figura).
A UNESP
- Ilha Solteira,
através da Área
de Hidráulica e Irrigação,
está presente na região através de um projeto de
pesquisa que contempla estudos sobre o comportamento da cultura da acerola
frente a diferentes sistemas de irrigação e também
todas as condições climáticas são monitoradas
e os resultados repassados à comunidade. Na Internet, todos esses
dados podem ser acessados em http://www.agr.feis.unesp.br/pesquisas.htm.
Ao contrário dos pomares cultivados sob condições
de sequeiro, que enfrentam estresse hídrico em parte do seu ciclo
anual, os pomares irrigados mantém uma estabilidade de umidade
no solo, o que garante a produção durante o período
seco e neste período normalmente não se verificam problemas
para o escoamento da produção, visto que são poucos
os agricultores que realizam irrigação de forma criteriosa
na cultura.
A produção das plantas de acerola no período entre
outubro e início de janeiro pode ser observada no Quadro 1. Note
que nas condições de sequeiro praticamente não
houve produção no mês de novembro, todavia a produção
se concentrou em outubro e dezembro, como conseqüência das
chuvas ocorridas em setembro e novembro.
Quando olhamos a produção dos diferentes sistemas irrigados
verifica-se uma estabilidade maior da produção, ou seja,
uma desconcentração da produção, porque
as plantas sob condições de irrigação mantêm
suas atividades fisiológicas e assim encontramos flores e frutos
o tempo todo. Veja na figura o comportamento da produção
no mês de dezembro e no início de janeiro e perceba que
entre uma colheita e outra, nos sistemas irrigados, a variação
é muito menor se comparada com as condições de
sequeiro.
O Quadro 1 traz também a informação de que não
há muita diferença até agora na produção
total de frutos de acerola cultivados sob condições de
sequeiro e irrigado pelos sistemas de gotejamento em sub-superfície
(enterrado) e por microaspersão.
Uma pessoa menos desavisada poderia então dizer: Por que irrigar
se a produção aumenta muito pouco? A resposta à
esta questão é feita com outra pergunta: o que adianta
produzir bastante e não ter como armazenar ou para quem vender?
Assim, três são as soluções para o problema
do excesso de oferta de frutos: ou se investe no aumento da capacidade
de armazenamento ou se investe em irrigação (para ampliar
o período de colheita e manter uma estabilidade de produção).
Todavia, parece-nos que políticas que contemplem ou estimulem
as duas soluções anteriores se constituem no melhor caminho
para toda a população que depende direta ou indiretamente
da cultura da acerola.
A análise feita neste artigo mostra claramente que a irrigação
não somente aumenta a produtividade das culturas, mas se constitui
também uma poderosa ferramenta de comercialização
dos produtos, fazendo com que as cultura produzam fora de época,
mantenham a estabilidade da produção e assim permitindo
o planejamento pós-colheita.
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