A
escassez da palmeira juçara (Euterpe edulis), devido à
sua exploração excessiva, fez com que o consumo de outros
tipos de palmito aumentasse, como o do açaí, de origem
amazônica, que hoje é o tipo mais comercializado no País.
Ainda assim, o juçara continua a ser utilizado em restaurantes,
por ser o mais vistoso e carnudo entre os palmitos. Uma das formas de
evitar a extinção da palmeira juçara é a
substituição de seu uso pelo palmito de pupunha. “Ainda
que tenha o gosto um pouco mais adocicado, este tipo de palmito, natural
da Amazônia, cresce em cerca de dois anos e seu cultivo protege
e enriquece o solo”, conta o biólogo Mauro Galetti, do
Instituto de Biociências da UNESP, campus de Rio Claro. Como alternativa
à extração do palmito juçara, a especialista
em tecnologia de alimentos
Jacira dos Santos Isepon, da Faculdade
de Engenharia da UNESP, campus
de Ilha Solteira, realiza o processamento de palmito a partir da
pupunheira, cultivada em diferentes experimentos com irrigação
na Fazenda de Ensino e Pesquisa da Faculdade. “O objetivo é
desenvolver e incentivar a cultura sustentável do palmito, em
substituição ao extrativismo predatório”,
afirma. Diferente da juçara, a pupunheira cresce de maneira acelerada
e apresenta brotos que facilitam sua reposição. “A
pupunha atinge o estágio ideal para extração de
palmito em cerca de 18 a 24 meses, e, mesmo após cortes sucessivos,
ela brota no mesmo lugar durante anos”, explica, enfatizando que
a pupunheira também oferece um alto rendimento de palmito. “Em
função de suas características, que garantem um
alto potencial produtivo, a pupunha vem se destacando no mercado”,
conclui.
Palmito ameaçado: Corte
prematuro pode trazer graves conseqüências
Parar
de comer palmito juçara. Essa é a solução
para evitar a exploração indevida e, conseqüentemente,
a extinção deste palmito, de acordo com o biólogo
Mauro Galetti, do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências
da UNESP, campus de Rio Claro. “O palmito juçara é
o mais utilizado em restaurantes e o seu corte prematuro pode trazer
graves conseqüências ambientais”, afirma o docente,
idealizador do site “Palmito Juçara” (www.rc.unesp.br/ib/ecologia/palmito.html).
A palmeira que dá origem ao palmito juçara cresce na Mata
Atlântica, do sul da Bahia até Misiones, na Argentina,
podendo ser encontrada ainda em brejos próximos ao Distrito Federal.
Esta palmeira deveria ser o tipo mais comum da mata primária
se não fosse tão explorada. “O fruto jovem do juçara
demora no mínimo dez anos para se tornar adulto, mas, como as
populações da palmeira estão escassas, os palmiteiros
estão atacando até os palmitos jovens, que têm de
dois a três anos de idade”, diz Galetti. “Se esses
palmitos não chegam à idade adulta, não frutificam,
o que impede a disseminação de sementes. A conseqüência
é o desaparecimento da espécie. Uma alternativa é
a substituição de seu uso pelo palmito de pupunha.”
O impacto ambiental da falta de palmito juçara na mata envolve
também a extinção de várias espécies
de animais que se alimentam dele. Tucanos, arapongas, sabiás-unas,
veados, esquilos, cutias, antas, entre outros seres vivos, dependem
dos frutos do palmito para sua alimentação e contribuem
para a dispersão de suas sementes e das de outras plantas importantes
para a floresta. “A ausência do juçara causa um efeito
em cascata que torna a floresta pobre”, afirma o docente do IB.
A maioria do palmito juçara encontrado nos supermercados e restaurantes
vem de corte ilegal, feito geralmente dentro de Unidades de Conservação
(Parques Estaduais e Nacionais e Estações Ecológicas).
Para piorar a situação do consumidor, o palmito cortado
na mata é cozido e engarrafado na hora sob péssimas condições
de higiene e recebe rótulos falsificados, que não dizem
a sua origem. Isso sem contar aqueles que são levados diretamente
das florestas para os restaurantes, sem um controle sanitário
adequado. “Por isso, a opção mais eficaz para diminuir
a exploração do palmito juçara é incentivar
as pessoas a não comê-lo, mostrando, além da questão
ambiental, como o consumo desse alimento pode ser perigoso para a saúde”,
conclui o docente.
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