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MATÉRIA NA REVISTA GLOBO RURAL
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Máxima produção com menos água é igual a
eficiência. Como fazer essa equação prosperar?
Empresas do setor já têm as respostas |
O agrônomo José Renato Miranda Serra tem colecionado surpresas com os 96 hectares de café que toca em Ibiá (MG). A principal delas é a excelente produtividade alcançada na primeira safra, no ano passado, com 62 sacas beneficiadas por hectare e boas possibilidades de repeti-la em 2012. Mas também saltam aos olhos a uniformidade e o alto vigor dos pés, que tiram boa parte da energia da nutrirrigação, uma espécie de fertirrigação intensiva. "O sistema permite grande aproveitamento dos fertilizantes e minimiza as perdas por volatilização e lixiviação", diz.
Foi José Serra Netto, irmão de José Renato, quem adquiriu a propriedade três anos atrás e não pensou duas vezes antes de irrigar. Em 1999, ele começou de forma pioneira' o gotejamento no café em São Paulo. Enquanto um produtor não irrigante tirava 25 sacas por hectare, Netto conseguia 56 sacas. Em Ibiá, passou a colocar adubo duas vezes por semana, sempre que manda água para as plantas, e a economia no gasto hídrico veio na esteira. "A previsão inicial era usar 3,5 milímetros de água por dia. Hoje, em função do bom manejo com a nutrirrigação, aplico 1,5 milímetro", afirma.
No mês em que se comemora o Dia Mundial da Água 22 de março e depois de tantas áreas produtoras do país terem sofrido com a seca nos últimos meses, especialmente a Região Sul, a irrigação ganha força. Segundo dados da Agência Nacional de Águas (ANA), cerca de 4,6 milhões de hectares (o equivalente a 7% do total da área plantada) são irrigados no Brasil, mas há potencial para 29,6 milhões de hectares. No entanto, como esse setor é o que mais demanda água - 69% do total consumido, faz-se necessário usar o recurso com a maior moderação possível, quase a conta-gotas.
No caso da família Serra, a tecnologia escolhida é oferecida pela Netafim, multinacional israelense que detém 40% do mercado de irrigação localizada, dedicando-se à microaspersão e ao gotejamento. A nutrirrigação consiste em um sistema de gotejamento, com o diferencial de ter um equipamento extra no cabeçal de controle que orienta a irrigação, pingando água e nutrientes em conjunto, em doses homeopátícàs e mais eficientes. "Uma aplicação pontual dessas substâncias, com menos quantidade e mais frequência, torna-se menos salina, o que facilita a absorção pelo vegetal", explica Carlos Sanches, agrônomo da empresa.
Em virtude do aquecimento da demanda por equipamentos de irrigação, o faturamento da Netafim cresceu acima dos dois dígitos nos últimos anos e a previsão é que as vendas aumentem 30% em 2012. "Isso se explica pelo interesse dos produtores não só em economizar água, mas em insumos e energia elétrica, tudo o que traz o gotejamento", conta Igor Freitas, gerente de marketing da companhia.
Assim como a Netafim, várias empresas do segmento têm se mobilizado para oferecer equipamentos e tecnologias cada vez mais avançados, a exemplo da John Deere Water. A marca nasceu há três anos, depois que a tradicional empresa de máquinas agrícolas adquiriu duas empresas americanas e uma israelense de irrigação. A John Deere Water só trabalha com irrigação localizada e a principal estrela do portfolio é o 05000, um tubo gotejador lançado em 2011 que funciona enterrado no solo e é indicado para culturas de grande extensão, como cana e grãos. "O 05000 possui um sistema para proteger a entrada de raiz; ao invés de Um furo para a saída de água, ele tem uma fenda", explica Tereza Reis, gerente regional de vendas da John Deere Water. O fato de ainda haver queima para a colheita de cana em algumas regiões requer que se resguarde a estrutura de irrigação para não destruí-la com o fogo. "Mesmo com a evolução do setor, trazida pelo crescente uso de colheitadeiras, colocar o equipamento sob o solo evita que a máquina o danifique ao passar por cima", afirma Tereza. Esse tipo de gotejador também facilita os tratos culturais em plantios com espaçamento estreito.
Em linha semelhante vai a NaanDanJain, de origem israelense e indiana, que só investe em irrigação de baixo volume. Entre os destaques da empresa está a recente geração de tubo gotejadores integrais planos das linhas TaIDrip, TopDrip e AmnonDrip, produzidos em Leme (SP). Os modelos TopDrip e AmnonDrip são autocompensantes, portanto, garantem precisão na aplicação de água mesmo em terrenos acidentados e extensos. "Os grandes diferenciais desses tubogotejadores são o elevado controle da aplicação de água, em termos de uniformidade para as plantas, bem como o fato de disporem de mecanismo antissifão, que impede a aspiração de impurezas, e antidrenante, que mantém o tubo cheio mesmo após o desligamento do sistema, trazendo rapidez na retomada da irrigação quando for novamente acionado", explica Antonio Alfredo Teixeira Mendes, gerente-geral da NaanDanJain.
Para cultivos permanentes, o custo médio de um sistema de gotejamento varia de R$ 4 mil a R$ 7 mil por hectare instalado. Os valores podem ficar um pouco mais salgados se a opção for pelos pívôs centrais, que vão de R$ 4.500 a R$ 8 mil por hectare. "Decidir por um ou outro depende de critérios como tipo de solo, demanda hídrica para a cultura na região e disponibilidade de mão de obra na fazenda", afirma Marcelo Borges Lopes, diretor presidente da Valmont, uma das líderes no fornecimento de pivôs centrais e sistemas lineares (semelhantes aos pivôs, mas que percorrem trajetos em linha reta, jogando água sobre as linhas da cultura).
Atualmente, a lepa é uma das grandes vedetes da Valmont. O equipamento é uma adaptação que aproxima do vegetal o aspersor do pivô central e faz uma irrigação dirigida. "As perdas por evaporação são reduzidas, já que a aplicação é feita exatamente sobre a planta", diz Lopes. A indicação é para culturas perenes, como laranja, café e cana. A Valmont aposta ainda no Valley Irrigação de Precisão, um sistema que permite ao agricultor fazer com que cada grupo de aspersores jogue um volume diferente de água à medida que o pivô central se movimenta. "Normalmente, há variações de solo e desenvolvimento da cultura em uma mesma área, então o sistema colabora para dar uniformidade", explica o executivo.
De acordo com Lopes, os pivôs centrais têm hoje 95% de eficiência no uso da água, há 30 anos, quando estrearam no país, esse índice era de 75%. E como eficiência é a palavra-chave quando se trata de recursos hídricos, há quem tenha atentado inclusive à fase de projeção dos sistemas de irrigação. É o caso da Amanco, que lançou, há um ano, o IrrigaCAD, um software para atender às revendas de produtos de irrigação. "Você entra com parâmetros de cultivo, como evapotranspiração, espaçamento da cultura e lâmina d'água requerida, e ele fornece inúmeras opções de utilização, tanto na linha de microaspersores quanto de tubos gotejadores da empresa", afirma Marcelo Capelleto, engenheiro de aplicação da Mexichem Brasil, detentora da marca Amanco.
O sistema ajuda a calcular o potencial de bornbeamento, o tempo de rega necessário e o volume de água aplicado. "Ele traz mais segurança e confiabilidade, porque minimiza as falhas que possam passar despercebidas pelo projetista, o que acarretaria danos ao produtor", diz Capelleto. O download é gratuito e mais de 150 revendas da Amanco já receberam treinamento para operar o IrrigaCAD.
Igualmente gratuito é um software para manejo de água da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Ilha Solteira (SP). "Sem saber quanto a cultura 'bebe', a chamada evapotranspiração, pode-se irrigar além do necessário, desperdiçando e gerando custos, ou aquém, reduzindo o potencial produtivo", afirma Fernando Braz Tangerino Hernandez, professor titular da instituição. Como as informações climáticas (a exemplo de temperatura, umidade e velocidade do vento) estão cada vez mais à disposição no país, os pesquisadores tiveram a ideia de criar um software, o SMAI, que usa dados da estação meteorológica mais próxima para calcular a evapotranspiração e então aplicar a quantidade certa de água no campo. O sistema pode ser usado em qualquer cultura e em cinco meses já soma mais de 2 mil downloads.
A decisão de irrigar não é um remédio que traz efeito imediato. Pressupõe planejamento e a conquista da licença para uso da água, o que pode levar um ano. Entretanto, pode ser a forma de deixar mais um obstáculo para trás e reduzir o estresse - hídrico, literalmente - a cada vez que para de chover.
MAIS INFORMAÇÕES: para fazer o download do software SMAl. da
Unesp, acesse http://clima.feis.unesp.br/smai
Fonte: Mariana Caetano, na Revista Globo Rural de março de 2012, número 317, p.49-51.
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