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Secretário da Agricultrua também confirma criação do Fundo de Aval para financiar agronegócio familiar |
A partir de julho, os produtores
da região terão à disposição um pólo
tecnológico.
A revelação foi feita, com exclusividade, ao JORNAL DE JALES, pelo Secretário Estadual da Agricultura, João Carlos Meirelles, dia 13 de maio, ao passar por Jales, vindo de Votuporanga, rumo a Santa Fé do Sul. Segundo Meirelles, o pólo é o novo modelo de gestão do conhecimento do governo Covas, fazendo com que a disponibilidade de talento, de pesquisa, de tecnologia, que o Estado desenvolveu em todos estes anos, sejam colocados rapidamente à disposição dos usuários. Na região de Jales, por exemplo, onde predomina a fruticultura, a intenção é concentrar aqui todos os recursos de pesquisa nessa área. "Mas não é só pesquisa agronômica. Precisa também de pesquisa sobre como colher, embalar, processar, cortar, informações de mercado, enfim o conceito de cadeia produtiva", explicou Meirelles. O secretário da Agricultura informou também que o governo estadual acaba de aprovar o Fundo de Aval, que possibilita o acesso do pequeno produtor agrícola aos recursos necessários para financiar o desenvolvimento. "A medida é de grande alcance social, pois beneficia aquele empreendedor familiar, que antes não conseguia crédito por falta de garantias a serem oferecidas ao banco. O Fundo de Aval avaliza a garantia ao banco que fornece crédito, viabilizando o agronegócio familiar, importante alternativa de geração de renda e de trabalho", acrescentou. A lei atual transforma parte dos recursos do Fundo de Expansão da Agropecuária e da Pesca (FEAP) num fundo de aval para atender os produtores. Com isso, esclareceu, multiplica-se o número de beneficiários, pois, com uma base de R$ 20 milhões do orçamento do FEAP, é possível conseguir R$ 500 milhões do orçamento do FEAP, é possível conseguir 500 milhões no crédito rural, para o atendimento de 50 mil produtores, em valores médios de R$ 10 mil por contrato. |
"Pólo Tecnológico pretende aproveitar a vocação regional" |
13 de maio, sábado,
8 horas da manhã. O bispo diocesano de Jales, D. Demétrio
Valentini, recebe na residência oficial, para um café da manhã,
o Secretário Estadual da Agricultura, João Carlos Meireles,
seu amigo pessoal. Acompanha o Secretário, o advogado Vicente Marques,
chefe de gabinete da pasta. O diálogo entre os dois é ouvido
atentamente também pelo padre Mário Roberto de Faria, pároco
da Igreja Santa Rita e pré-candidato a prefeito de Fernandópolis.
Apesar da presená dos dois religiosos , quem parece pregador é Meirelles. Com entusiasmo de missionário, ele discorre sobre os projetos da Secretaria Estadual da Agricultura e, particularmente, sobre o Pólo Tecnológico Regional, que ele pretende implantar a partir de julho. Sobre este e outros assuntos, João Carlos de Souza Meirelles, 65 anos, casado há 42 com Yara, quatro filhos, engenheiro civil de formação, agricultor, pecuarista e colonizador, ex-vereador em São Paulo (1964-1972), falou ao JORNAL DE JALES, no carro oficial da secretaria dirigido pelo amigo Vicente, no trajeto entre Jales e Santa Fé do Sul, onde participou de reunião da Coordenadoria Regional do PSDB. (D.R.J) |
JORNAL DE JALES - O que será esse Pólo Tecnológico Regional? |
MEIRELLES - É
o novo modelo de gestão do conhecimento do governo Mário
Covas, fazendo com que a disponibilidade de talento, de pesquisa, de tecnologia,
que o Estado desenvolveu, sejam colocados rapidamente à disposição
dos usuários. Até recentemente toda pesquisa sempre foi feita
com a melhor qualidade pelos institutos de pesquisa, como o Instituto Agronômico
de Campinas, o Instituto Biólogico, de Tecnologia de Alimentos,
identificando novos cultivares, novos animais, novos produtos, porém
na verdade, sem o conceito de cadeia produtiva.
Agora com o Pólo Tecnológico, o que vamos fazer, por exemplo, na região de Jales, é concentrar aqui sobre a pesquisa que é demandada pela própria região. Ou seja, o que é que a própria região espera e precisa? Precisa, por exemplo, de pesquisa na parte de fruticultura, mas não é só pesquisa agronômica, precisa também de pesquisa sobre como colher, como embalar, processar, cortar, precisa informações de mercado para ver se nós devemos aumentar mais a produção desta ou daquela fruta, e é isso que o pólo tecnológico vai fazer. |
JJ - A partir de quando? |
MEIRELLES - A partir, provavelmente, do mês de julho, em cima das estações experimentais, que já temos na região. Nós vamos utilizá-las como o embrião desses pólos, mas o embrião em termos de tamanho, que em termos de resposta fazer geral e imediata. Esta região, por exemplo, tem vocação só para fruticultura, evidentemente, mas é a própria região que vai dizer, em função das suas vocações, quais são as prioridades para que a gente possa dar respostas imediatas. ou seja, é um conceito de agregação de valores, de cadeias produtivas que nós vamos implantar e oferecer uma primeira contribuição do Estado. |
JJ - De que forma, os produtores vão poder se expressar para dizer o que querem? |
MEIRELLES - Da forma que já está organizada. Nós temos em cada município do Estado, primeiro um Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural, que é responsável pela organização dos diversos segmentos da produção, começa pelos trabalhadores, depois os produtores rurais, os industriais, comerciantes de cada município, porque é este conjunto que faz parte do novo conceito de agronegóscio. Não se trata mais de falar em agricultura. Se falarmos só nisso, estaremos destacando apenas 8% do Produto Interno Bruto, do PIB brasileiro. Se nós pensarmos em agronegócio, ou seja, tudo o que pode ser acrescido de valor ao produto rural, nós passamos a falar de 42% do PIB do Brasil, ou seja, multiplicamos por 5 o valor da nossa produção agropecuária. Quando nós tratamos esse assunto agregamos valor ao produto rural e neste sentido quem vai dizer o que precisa e como quer é a sociedade organizada, através dos conselhos municipais, junto com o poder público municipal, prefeito, vereadores, porque é este sistema que precisa começar a voltar a pensar, seriamente, no conceito de geração de emprego, renda, trabalho e divisas para o país, que só o agronegócio pode oferecer. |
JJ - O agronegócio é prioridade na Secretaria Estadual da Agricultura? |
MEIRELLES - É prioridade do governador Mário Covas. Eu sou apenas capataz da comitiva dele, portanto, o governador na sua grande visão de estadista, entendeu que não vai ser mais a indústria convencional que vai oferecer os empregos que nós precisamos na nossa população. A indústria está cada vez mais automatizada, o comércio cada ver mais auto-serviço e compras eletrônicas. E com isso, nós só temos uma fronteira urgente e imediata pra oferecer trabalho e renda que é o agronegócio, ou seja, é a gricultura aumentando sua produção, a sua produtividade, e sobretudo, nós no conceito de agronegócio, fazendo com que em cada município, pequeno, médio ou grande, façamos no próprio município ou na pior das hipóteses, na região, a transformação desses produtos rurais em produtos pronto, acabados para o consumo, embalados e portanto, tenhamos capacidade de gerar empregos para a emergência do desemprego que temos no país hoje. Por isso o governador elegeu o agronegócio como o negócio de São Paulo. |
JJ - Secretário, o grande dilema dessa proposta do governo Covas é sensibilizar os produtores. Como fazê-los entender que o agronegócio é importante e que o importante não é só produzir? |
MEIRELLES - Eu acho
que a maneira objetiva da gente fazer isso é continuar com esse
sistema que nós fizemos. Temos em cada município um Conselho
Municipal e, em cada uma das quarenta regiões em que o Estado está
dividido para efeitos da agricultura, nós temos um Conselho Regional
de Desenvolvimento Rural, onde nós reunimos não apenas localmente,
, mas em toda a região as lideranças, trabalhadores, produtores,
industriais, comerciantes, prefeitos, vereadores para discutir a realidade
da região, e é um processo de formação de consciência,
porque nós precisamos mudar a cultura que emplastamos no páis,
nos últimos 50 anos. foi uma visão pouco clara da história,
nós estamos trabalhando em cima de uma visão deformada da
história.
Na década de 50, especialmente de 60, a CEPAL, Comissão Econômica para a América Latina, produz iu alguns documentos e trabalhou intensamente nisso. De lá para cá, era imprescindível que nós gerássemos empregos e renda nos nossos países industrializando-os e era absolutamente correta a tese. Só que no Brasil nós lemos essa tese da seguinte forma: a indústria é a industria de fora que nós trazemos, então até hoje nós temos como resultado disso os famosos distritos industriais em todas as cidades do inteior, vazios, pois não têm indústrias fortes para trazer a todos os pequenos municípios, como de tratores, geladeiras. Nós temos que fazer nesses municípios, nos distritos industriais, a indústria de transformação do produto rural que temos, e não ficar sonhando com a fábrica de parafusos ou a de pino e bucha que jamais iria para uma pequena cidade. Então esse modelo cultural que na verdade foi desenvolvido por um conceito mal adaptado de desenvolvimento do país, promoveu as deformações que estamos vivendo hoje. Nós nos mudamos do sítio para a cidade, fechamos a escola rural e mandamos um ônibus buscar crianças para estudar na cidade, esvaziamos não só fisicamente de população no campo, que é normal que aconteça, pois ela diminui no mundo inteiro, mas diminuímos como resultado do progresso e não como resultado da marginalidade ecocômica. E o que nós fizemos? Nós criamos uma consciência coletiva sobre os prefeitos e as pessoas dizendo que nós tinhamos que trazer para o município, a indústria, que sem ela não temos possibilidade de irmos para frente, só que esquecemos que o que temos que trazer é a indústria efetivamente de transformação do rural. Com isso nós estamos vivendo um problema crescente de desemprego, nossas pequenas cidades vivem a angústia de terem que mandar para fora os seus filhos quando fazem 15 ou 18 anos e precisam trabalhar porque não têm emprego na pequena cidade e com isso nós continuamos no processo crítico, gerando pobres e miseráveis sem fazer a crítica desse processo. Agora o governo Mario Covas tem uma resposta objetiva, clara, não é política nem demagógica, mas é uma resposta estrutural, ou seja, como é que nós resolvemos o problema do novo tipo de desenvolvimento, esgotando a produção rural, agregando valor, fazendo com que isso seja realmente a solução para o desemprego, o trabalho, a renda do pequeno município e as divisas que o páis precisa. |
JJ - Secretário, e finalmente uma quetão crucial. E o crédito para isso? |
MEIRELLES - O crédito
tem que ser geral. Até agora quando falávamos em agricultura
imediatamente vinha aquela história do crédito rural. É
importantíssimo, definitivo e já está mudado, hoje
você tem crédito rural adequado para o pequeno agricultor
através do PRONAF, para máquinas em termos de investimentos
através do PRONAF Investimentos, para o médio e o grande
também há máquinas sendo financiadas a juros fixos,
sem correção, de 8,75% ao ano, com seis anos de prazo para
tratores e implementos e com oito anos de prazo para colheitadeiras.
Nós temos efetivamento hoje um novo modelo de crédito, entretando é um modelo que nos deixa sem muitos horizontes, por isso temos que criar uma condição efetiva de outras alternativas de créditos como a nova fórmula que nós ajudamos a criar que se chama cédula do produto rural. O Banco do Brasil já tinha essa cédula, aliás, ainda tem, muito boa, só que ainda atrelada a questão do cadastro bancário. Agora a partir do dia 2 de maio já temos operando uma outra modalidade, uma cédula do produto rural desatrelada do crédito. O indivíduo quer uma grande granja, quer fazer uma compra de milho antecipada antes do plantio da safra, ele faz um negócio com cada um dos produtores, compra por exemplo, metade da produção prevista para a área que o produtor vai plantar, paga antecipado por um preço combinado com o agricultor, faz um contrato padrão que é uma cédula do produto rural em que ele se obriga entregar por exemplo, mil sacos de milho, ele não fica devendo nem juros e nem correção monetária, apenas mil sacos de milho. O agricultor faz um seguro rural desta cédula porque pode haver um efeito climático em que ele possa não colher, faz um seguro da obrigação financeira de entregar os mil sacos de milho, e o contrato é direto entre eles, registrado na Bolsa Mercantil de Futuro de São Paulo. Portanto é um registro que não tem nada a ver com cadastro bancário, é apenas um contrato entre duas pessoas, como um comprador, uma grande empresa que esmaga soja, uma grande granja que precisa de milho ou qualquer outro produto e passa a ter o industrial, a garantia do produto na época da colheita porque se houver um incidente climático o seguro paga o risco do rural. Se hover uma inadimplência, como, o indivíduo colheu muito bem, mas desviou e não pagou a dívida, o seguro paga o indivíduo que comprou e depois aciona o indivíduo que não entregou |
Jornal
de Jales, 21 de maio de 2000, p.1-1, 1-5
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