A economia brasileira, descontados os impostos, cresceu 0,82%
no ano passado, segundo a medida do PIB (Produto Interno Bruto) divulgada ontem pelo IBGE. O PIB é a soma
das riquezas produzidas em um determinado período.
O número alcançado em 99 corresponde às expectativas recentes do mercado, mas é bem
melhor que as previsões feitas no início do ano passado, logo após a crise cambial, quando
o próprio governo admitia uma queda de 2% e projeções do mercado, em geral de grandes bancos,
indicavam uma regressão de até 5%.
"A minha avaliação desse número é de uma economia que não cresceu, mas,
em relação às previsões catastróficas, o número até é bom",
afirmou Roberto Olinto, coordenador do PIB trimestral do IBGE.
O PIB divulgado ontem é preliminar porque considera apenas os preços básicos da economia.
Só em meados deste ano o IBGE deverá divulgar o número incluindo os impostos.
Na versão igual à do número divulgado ontem, o PIB de 98 ficou positivo em 0,05%, mas na versão
final, chamada "a preços de mercado", houve queda de 0,12%.
Embora o PIB do ano passado tenha sido positivo, a renda per capita, que é o PIB dividido pela população
do país, foi negativa pelo segundo ano consecutivo. A preços básicos, ela caiu 0,4% no ano
passado e 1,32% em 98. A preços de mercado, a queda em 98 foi de 1,45%.
O crescimento do PIB em 99 foi impulsionado pela agropecuária, que registrou um aumento de 8,99% durante
o ano, contra uma queda de 0,02% em 98 (leia texto ao lado).
Mas foi a reação da indústria no último trimestre do ano a principal responsável
pelo fato de o Produto Interno Bruto de 99 ter sido positivo, segundo a avaliação de Olinto, do IBGE.
O desempenho da indústria foi negativo em 1,66%, mas esse resultado é quase a metade da queda acumulada
até setembro (3,25%).
No período de outubro a dezembro do ano passado, a produção industrial cresceu 3,27% em relação
ao mesmo trimestre do ano anterior. Descontados os efeitos típicos de cada época (sazonais), a indústria
cresceu 2,55% no quarto trimestre de 99 sobre o trimestre anterior (julho a setembro).
"O surpreendente é essa retomada da indústria no quarto trimestre, o que não quer dizer
que ela vá continuar crescendo assim", disse o técnico do IBGE. Olinto afirmou que ainda é
cedo para se ter uma explicação sobre o fenômeno.
O desempenho da indústria estava negativo desde 98, quando caiu 1,34%. Antes, o último ano de desempenho
negativo do setor havia sido 1992, com redução de 4,22%.
Entre os quatro subsetores nos quais se divide a indústria para cálculo do PIB, o pior desempenho
foi o da construção civil, com queda de 3,61% no ano.
O melhor resultado foi o da indústria extrativa mineral, com 0,85% positivo. A indústria de transformação
apresentou queda de 1,25% e os serviços industriais de utilidade pública
(energia elétrica, por exemplo) cresceram 1,97%.
Na agricultura, o destaque foi o desempenho das lavouras, cujo produto cresceu 11,26%, contra apenas 0,46% no ano
anterior. A produção animal cresceu 5,73%.
Os serviços cresceram 1,07%, com destaque para as comunicações, com 8,64%.
Na composição do PIB, os serviços têm peso de 59,71%. A indústria corresponde
a 32,29% e a agropecuária, 8%. Essas foram as ponderações de 1998. O IBGE não forneceu
as ponderações que vigoraram em 99.
IBGE afasta crescimento de 4% |
O IBGE não trabalha com a hipótese de a economia brasileira crescer este ano 4%, número com
o qual o governo trabalhou no cálculo do Orçamento Geral da União. Para o coordenador do PIB
Trimestral do IBGE, Roberto Olinto, o número é "um pouco ambicioso".
O técnico do IBGE disse que para que o país cresça 4% este ano serão necessários
"fatores adicionais à mera tendência da economia", o que significa algum tipo de estímulo
extra ao crescimento.
Olinto disse que uma taxa entre 2,9% e 3%, que no seu entendimento é a variação com a qual
o governo está trabalhando agora, é um número "bom, por enquanto", sendo necessária
"uma reavaliação daqui a quatro meses".
Entre os fatores que poderiam turbinar o crescimento econômico, para se atingir a meta de 4% que vinha sendo
projetada pelo governo, Olinto destaca a hipótese de "um belo crescimento das exportações".
No primeiro mês do ano essa expectativa não se confirmou.
As exportações em janeiro caíram 11,8% em relação a janeiro de 1999.
Outra possibilidade seria o Banco Central promover uma queda nas taxas de juros de modo a estimular o crescimento
do mercado interno. Com o recente aumento das taxas no mercado norte-americano, com tendência de novas altas,
essa possibilidade é considerada remota pelos especialistas.
Variação do PIB por setor |
1998
|
1999
|
Agropecuária |
-0,02%
|
8,99%
|
Lavouras |
0,46%
|
11,26%
|
Extrativa mineral |
-7,63%
|
1,45%
|
Produção animal |
2,37%
|
5,73%
|
Indústria |
-1,34%
|
-1,66%
|
Extrativa mineral |
8,03%
|
0,85%
|
Transformação |
-3,65%
|
-1,25%
|
Contrução |
1,42%
|
-3,61%
|
Ser.indust.de util.pública |
3,68%
|
1,97%
|
Serviços |
0,83%
|
1,07%
|
Comércio |
-4,45%
|
0,50%
|
Transporte |
2,10%
|
-0,13%
|
Comunicações |
5,93%
|
8,64%
|
Instituições financeiras |
-0,07%
|
0,82%
|
Outros serviços |
0,64%
|
-0,34%
|
Aluguel de imóveis |
1,95%
|
1,95%
|
Administração pública |
2,00%
|
0,67%
|
|