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Engenheiro Agrônomo e Professor Titular da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Fernando Braz Tangerino Hernandez atua no Departamento de Irrigação e Drenagem da Faculdade de Engenharia, Câmpus de Ilha Solteira. Também é consultor de publicações da Fapesp. Na entrevista concedida para o especial Água, matéria primeira, realizado pelo Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais (Ippri/Unesp) para alertar sobre a escassez de água, o especialista fala da importância da agricultura para a produção de água e da irrigação como fator a contribuir para manter estáveis os preços dos alimentos.

O especial está disponível no endereço http://www.ippri.unesp.br/#!/agua-materia-prima-da-vida/

Ippri/Unesp – Sem água não há produção agrícola e não há alimentos. Ainda assim, alguns setores sociais guardam a noção da agricultura como “gastona” de água. A atividade agrícola tornou-se o bode expiatório da crise hídrica?
Tangerino – Não é a primeira vez que isso acontece e não será a última. É um setor que se comunica mal e não consegue transmitir à sociedade a sua importância. O produtor de alimentos não se limita a produzir alimentos. O agricultor também compõe a cadeia de produção de água. É no campo onde o lençol freático é recarregado, a partir da infiltração da água no solo. Também é no campo onde se "limpa" a atmosfera, transformando o gás carbônico (CO2), lançado pelas cidades, em oxigênio. Quanto maior a produtividade, maior o consumo de CO2 e mais oxigênio é lançado na natureza. A agricultura irrigada usa água, inclusive de má qualidade e, pela evapotranspiração, contribui para a filtragem dessa matéria prima, que ganha a atmosfera e cai novamente no solo em forma de chuva. Não há perda de água nesse processo. Por outro lado, a tecnologia de irrigação promove elevada produtividade, a qual contribui para manter estável o preço dos alimentos, reduzindo a vulnerabilidade imposta pelas variações do clima e do tempo.

Ippri/Unesp – De que forma aagricultura contribui para a produção de água?
Tangerino  A produção agrícola feita com técnicas de conservação do solo e da água promove a recarga do lençol freático e reduz a diferença entre as vazões máximas e mínimas de um manancial. Entre as técnicas estão o plantio o direto, com terraços ou curvas de nível; as matas ciliares, que reduzem o impacto da chuva no solo; além de barragens de terra. Também adotar boas práticas agrícolas, como o manejo da irrigação, baseado na quantidade de água no solo ou na estimativa da evapotranspiração são essenciais para que a água fique na bacia hidrográfica por mais tempo.    

Ippri/Unesp – Como ocorre o processo de reuso da água na agricultura?
Tangerino – Não há atividade econômica que se dê sem o uso da água. A questão é como devolvemos essa matéria prima para a natureza. Mais da metade do esgoto brasileiro é lançado nos cursos de água sem tratamento. Cada vez que lançamos uma água ruim em um manancial precisamos de mais água boa para diluir a sujeira. Onde arrumamos mais água boa? Exatamente no campo, adotando as práticas listadas anteriormente, tendo a chuva como fornecedora da matéria prima. Setores industriais tratam a água de forma relativa e a agroindústria tem o histórico de maior reuso da água resultante dos processos de industrialização de produtos agrícolas. Veja, por exemplo, a cana-de-açúcar e a laranja. Todo o efluente industrial é utilizado na irrigação de suas áreas cultivadas. Mas de forma geral, temos pouca tradição no reuso da água provenientes das estações de tratamento de esgoto e também das indústrias do setor urbano.

Ippri/Unesp – A agricultura brasileira pratica uso eficiente da água?
Tangerino – De maneira geral não há mais espaços para desperdícios. Primeiro, pelos custos da energia cada vez maiores. Depois, pelos modernos sistemas pressurizados de irrigação que permitem o total controle dos equipamentos. Mas há situações em que os irrigantes, especialmente os pequenos, necessitariam de novos investimentos para usar melhor a água. Mas é preciso ter cautela quando se mede a quantidade de água utilizada no processo de produção agrícola. Mais prejudicial do que aplicar água em excesso, é aplicar menos água que a perdida no processo de evapotranspiração, porque assim não daremos as condições ideais para os processos fotossintéticos. As consequências são a baixa produtividade e a subutilização dos investimentos ou potencialidades dos investimentos em sistemas de irrigação. Medimos isso com uma técnica chamada de produtividade da água, ou seja, quanto produzimos ou geramos de biomassa a partir de um metro cúbico de água captado. Esta técnica é cada vez mais utilizada para tratar da eficiência do uso da água na agricultura. Nosso último trabalho, publicado na Holanda, trata exatamente desta questão e mostra que o cultivo de sequeiro [técnica agrícola para cultivar terrenos onde a chuva é diminuta] é menos eficiente que o irrigado. Confira os trabalhos em:
http://www.feis.unesp.br/irrigacao/pdf/franco_hernandez_spie_2014_92392E.pdf

Também temos empregado com sucesso a técnica descrita no trabalho Modelagem espaçotemporal dos componentes dos balanços de energia e de água no semiárido brasileiro.
http://www.feis.unesp.br/irrigacao/pdf/boletim_safer_teixeira_hernandez_2013.pdf

Ippri/Unesp – Como ocorre a autorização para captação de água para uso na agricultura?
Tangerino – A Lei 9.433/97, ou Lei das Águas, definiu que a água é um bem de domínio público dotado de valor econômico e estabeleceu como instrumento a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos. Portanto, para todos os setores econômicos é a outorga o instrumento legal que autoriza a captação de água, respeitando critérios técnicos.

Ippri/Unesp – Há conflito pelo uso da água no Brasil? Entre quais setores?
Tangerino – Existem situações distintas. No Nordeste a água é limitação para o desenvolvimento sócio-econômico de regiões inteiras, tanto no campo, como nas cidades. Assim, a maior parte dos perímetros ou distritos públicos de irrigação são encontrados nestas regiões. Ali são realizadas obras de infraestrutura, mas nem sempre são suficientes para garantir a segurança hídrica. Por isso sempre haverá relatos de conflitos. Por outro lado, as grandes cidades devem ter o planejamento de médio e longo prazos para garantir a segurança hídrica da população, incluindo os seguimentos industriais. Acreditar que vai chover todo ano o quanto precisamos para dar vazão às nossas necessidades não é uma boa prática e é isso o que estamos observando em vários Estados brasileiros, especialmente nas Capitais. Sabemos que não há segurança hídrica sem investimentos e aí entra novamente a questão de planejamento e priorização. Dois bons exemplos são a cidade de Jundiaí, encravada entre Campinas e São Paulo, que soube se prevenir; e o Estado de Goiás, que ao incentivar a construção de barragens de terra, garantiu que não houvesse comprometimento dos investimentos feitos pelos produtores de alimentos em sistemas de irrigação, que funcionaram normalmente, mesmo com menores volumes de chuva. Na posição oposta, onde houve rebaixamento do nível de água dos reservatórios das hidrelétricas para gerar energia, muitos irrigantes ficaram sem condições técnicas de operar seus sistemas de irrigação com eficiência ou chegaram a paralisar suas atividades econômicas. A aquicultura realizada em tanques redes também sofre os efeitos da crise hídrica, assim como a atividade industrial em grandes cidades.

Ippri/Unesp – Como acredita ser possível conscientizar para a preservação das fontes de água e seu uso sustentável?
Tangerino – Usar água com inteligência exige um forte trabalho de treinamento, conscientização e convencimento.  Trata-se de uma tarefa enorme de comunicação, com adequação de linguagem, para um País que aparentemente tem água sobrando. A comunicação deve ser continuada e atingir todas as idades, a começar pelas crianças do Ensino Fundamental. Deve envolver a população em geral e, sobretudo, tomadores de decisões em diferentes níveis.

Portal Universidade, 11 de abril de 2015.

 

 

 

 

 

 

 
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