Muito se fala da vocação do Brasil para a agricultura e pecuária, ou o agronegócio, porque aprendemos e nos convencemos de que esta atividade econômica envolve a maior cadeia de insumos e produtos da economia, com componentes do lado de dentro e de fora da porteira.
O setor se modernizou, muitos paradigmas foram quebrados e hoje praticamos a agropecuária altamente tecnificada o ano todo e em todas as regiões do país. Mas entre todas as técnicas empregadas três são significativas: material genético de qualidade, nutrição e irrigação. Assim, com água, fertilizantes e bons materiais genéticos no oeste paulista vemos produtores garantindo a sua sustentabilidade econômica com produtividade maior de suas vacas leiteiras e abatendo novilhos com 15 meses, limão sendo produzido o ano todo, laranjais mais produtivos e de melhor qualidade, feijão e milho sendo produzidos na entresafra e ainda seringueiras antecipando a sangria, para ficar em apenas alguns exemplos do que se pode fazer quando a oferta de água é assegurada, sem contar a beleza de jardins e campos esportivos irrigados.
Todavia, ao entrarmos em contato com a zona rural nos meses de julho a setembro, o contraste se estabelece ao observar as pastagens e vegetação seca, e um desavisado poderia até achar que está no sertão nordestino, em função do déficit hídrico pronunciado que reina no oeste paulista, região de chuvas concentradas no verão e de maiores taxas de evapotranspiração do Estado.
Assim, se a irrigação proporciona a segurança da produção, água é o insumo mais importante e no oeste paulista a situação é crítica, uma vez que ausência de matas ciliares, uso e ocupação do solo em grande parte sem nenhuma técnica conservacionista levam à processos erosivos, que acabam nos mananciais na forma de assoreamento, aumento das áreas degradadas, saturadas e tomadas de vegetação aquática e perda de qualidade da água, sendo indissociável as práticas conservacionistas, disponibilidade e qualidade de água e saneamento para que a população possa ter saúde e desenvolvimento sócio-econômico.
Com foco no desenvolvimento regional baseado na irrigação associado com a preservação e melhoria dos recursos hídricos e percepção ambiental, a Área de Hidráulica e Irrigação da UNESP Ilha Solteira tem ampliado seus projetos de ensino, pesquisa e extensão, com o monitoramento agroambiental de microbacias hidrográficas de importância econômica no oeste paulista e propondo o planejamento integrado dos recursos hídricos.
Córregos em diferentes municípios são monitorados mensalmente e avaliados em termos de qualidade e disponibilidade de água, abrindo caminho para o desenvolvimento de sistemas de alerta, recuperação e uso racional da água, possível também devido ao monitoramento agroclimatológico da região.
É raro identificar uma microbacia livre de problemas ambientais, como ondas de cheias alternadas com vazão mínima na estação seca, avançado processo de assoreamento e degradação ambiental, tendo como conseqüências a redução do volume médio anual de água e alteração da qualidade de água, fundamental para a irrigação das diferentes culturas e que em alguns casos concorrem com o uso para água servida. Pior, esta situação se repete país a fora, sendo mais regra do que exceção.
A UNESP Ilha Solteira, através da Área de Hidráulica e Irrigação, disponibiliza em seu Portal seus trabalhos técnicos e divulga diariamente as condições agroclimáticas da região, subsidiando ações de planejamento ambiental.
Estudos recentes quantificaram o positivo efeito da incorporação de novas áreas de mata ciliar, da conservação do solo e do uso eficiente da água e estamos convictos de que um dos maiores desafios deste século será o aumento da oferta e da utilização sustentável dos recursos hídricos, renovável, mas finito, situação que envolve técnica, mas um trabalho incansável de convencimento, conscientização, ação e comprometimento de toda a sociedade, pois se assim não for pensado, enfrentaremos aqui a pesada realidade de outras regiões, tanto do Brasil, como do mundo
|
|