PRESIDENTE DECIDIRÁ EM JUNHO
SE RIO SÃO FRANCISCO SERÁ TRANSPOSTO


 
Se aprovada, obra deverá começar no fim do ano e custará US$ 1,5 bilhão
Brasília - O presidente Fernando Henrique Cardoso estabeleceu o fim de junho como prazo final para o governo decidir se executa ou não o projeto de transposição do Rio São Francisco. Segundo o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, se o presidente aprovar o projeto, as obras começarão no fim do ano, com conclusão prevista para três anos. O custo total  da obra - que permitirá a oferta de água, por 25 anos, para quatro Estados do Nordeste - é de US$ 1,5 bilhão, segundo Bezerra.
O projeto de impacto ambiental de transposição deverá estar pronto em abril e os estudos de viabilidade econômica e de engenharia, em junho. O ministro apresentou pela primeira vez, ontem, o projeto a FHC e a outros sete ministros em reunião no Palácio da Alvorada. "O presidente determinou que os estudos sejam acelerados, que eu me entenda com outros ministros e disse que decidirá em junho", afirmou Bezerra. Para que seja aceito, o projeto precisa ser aprovado pelo Ministério do Meio Ambiente e pela Agência Nacional de Águas (ANA), que ainda não foi criada.
O ministro mostrou ontem como pode ser executada a obra que beneficiará os Estados de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. Segundo o ministro, a obra é importante porque permitirá que se mantenha constante o oferta de água na região, garantindo a permanência da população nas cidades. "A  partir de 2001, haverá um desequilíbrio hídrico na região e, então, ou levamos água ou haverá um fluxo migratório para outros Estados", argumentou Bezerra. Dos quatro Estados, apenas Pernambuco possui rios perenes.
Resistência - Se tem apoio declarado de três Estados beneficiados (PB,CE, RN), o projeto encontra muita resitência em outros três da região: Bahia, Sergipe e Alagoas. O ministro admitiu que a transposição provocará perda de 1,5% na produção de energia da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf). Mas argumentou que é possível recuperar essa perda com a utilização de energia termoelétrica que o governo está construindo.
Para o ministro, a resistência ao projeto é causada por desconhecimento. "A transposição é apenas bombear uma quantidade mínima da vazão do São Francisco para locais onde não há água", explicou. "E irá proporcionar mais de 300 mil hectares irrigáveis na região". Segundo a proposta apresentada ontem, em 25 anos, será possível retirar 64 metros cúbicos por segundo de água do São Francisco, que tem uma vazão de 2.060 metros cúbicos por segundo.

Isabel Braga - O Estado de São Paulo - 22 de março de 2000 - p. A12