FLORESTA AMAZÔNICA ESTÁ SUBMERSA HÁ 15 ANOS PELA BARRAGENS DA HIDRELÉTRICA DE TUCURUÍ, NO PARÁ

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 Reservatório modificou o ecossistema da região

 Duplicação de usina vai alagar mais 20 km² no Pará

 
 
 
Reservatório modificou o ecossistema da região
A criação do reservatório da usina hidrelétrica de Tucuruí, há 15 anos, modificou completamente o ecossistema tanto da área inundada quanto ao redor do lago, segundo pesquisadores.
Na época da construção da usina (1975 a 1984), a legislação brasileira não exigia o estudo de impacto ambiental. Segundo a própria Eletronorte, foi feito apenas um relatório de autoria do pesquisador Robert Gooldland, no qual constavam algumas indicações do que poderia ocorrer.
Vários pesquisadores estudaram os impactos da inundação da floresta. Dos 2.875 km² de mata, apenas 10% foram retirados.
Na época da construção, a Eletronorte contratou empresas para retirar parte da floresta próxima ao local da barragem.
Para as outras áreas, a empresa Capemi ganhou uma licitação para exploração, mas, por problemas administrativos, acabou retirando pouca madeira.
O pesquisador Inocêncio Gorayeb, do Museu Paraense Emílio Goeldi, afirmou que a manutenção da vegetação na área ocasionou a eutrofização, que é a decomposição de matéria orgânica inundada. O fenômeno provoca um mau cheiro, que, mesmo depois de 15 anos, ainda subsiste em certas áreas.
Uma superpopulação de insetos, como as mutucas e os pernilongos, acabou expulsando as 3.000 pessoas que haviam sido removidas para áreas em volta do local. Houve uma explosão de macrófitas, plantas aquáticas, que obrigou a empresa Eletronorte a limpar o lago.
De acordo com o pesquisador do Inpa Philip Fearnside, o alagamente da floresta provocou a liberação de gases carbônico e metano, que contribuem para o efeito estufa (aquecimento da atmosférica por substâncias que impedem o escape de radiação solar de volta para o espaço).
Fearnside calcula que, em 1990, o reservatório de Tucuruí liberou 8,5 milhões de toneladas de carbono, valor maior que o emitido com a queima de combustíveis no município de São Paulo na mesma época, aproximadamente 6 milhões de toneladas.
O preenchimento do reservatório, que durou cerca de três meses, provocou também a morte de vários animais terrestres.
A Eletronorte capturou parte das espécies e as colocou em áreas mais altas, onde hoje estão as ilhas do lago. Gorayeb, no entanto, acredita que a empresa conseguiu resgatar menos de 1% dos animais que viviam no local.
A fauna aquática também mudou. O tucunaré, peixe carnívoro que vive em águas mansas como lagos, tomou o lugar de outras espécies que havia no rio Tocantins, desviado para a criação do reservatório.
O diretor de Meio Ambiente da Sectam (Secretaria Estadual de Ciência, Tecnológia e Meio Ambiente), Permínio Pascoal Costa, disse que houve uma diminuição do tamanho e do número de peixes de água corrente, como o filhote e o surubim.

Luís Indriunas - Folha de São Paulo - 09 de abril de 2000 - p. 3-2


 
 
 
Duplicação de usina vai alagar mais 20 km² no Pará
A duplicação da potência da usina hidrelétrica de Tucuruí (PA) - cujas obras começaram em 1998 - vai provocar o alagamento de mais de 20 km² de uma região já desmatada na primeira fase. Isso corresponde a uma área superior à do arquipélago de Fernando de Noronha - 18,4 km².
Ambientalista vêm questionando o impacto das novas obras desde que a duplicação foi anunciada e denunciam, novamente, a inexistência de um estudo sobre os danos que elas podem causar ao ambiente.
O gerente das obras de expansão da hidrelétrica, Adailton Souza Pinto, disse que o impacto ambiental será nulo.
A Eletronorte providenciou um relatório sobre o impacto ambiental, que foi aceito pelo Sectam (Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente) do Estado do Pará.
A área atual do reservatório de 2.875 km² será suficiente para atender a demanda das 12 turbinas já existentes e das outras 11 que serão instaladas, segundo a empresa.
"O alagamento feito há 15 anos será suficiente, já que estavam previstas as obras de expansão", disse Pinto.
Para o pesquisador do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) Philip Fernside, a Eletronorte não está levando em conta outras variantes, como o aumento da altura do reservatório e a mudança no fluxo de água após a barragem.
O diretor da Divisão de Análise de Infra-Estrutura da Sectam, Francisco Carlos Fonseca, disse que, como a duplicação da hidrelétrica já estava prevista no plano original de construção, não haveria necessidade de um novo estudo de impacto ambiental.
Foram feitos, no entanto, dois fóruns em Marabá e Tucuruí para discutir a duplicação. Segundo Fonseca, a Eletronorte apresentou um estudo que resultou em 14 projetos ambientais - incluindo preservação de áreas degradadas, educação ambiental e pesquisas biológicas - para compesar eventuais danos.
Com as novas turbinas, a hidrelétrica de Tucuruí passará a ter capacidade para produzir 8.370 megawatts contra os 4.125 megawatts atuais.
Finalizada, a hidrelétrica terá capacidade para atender 16 milhões de pessoas e as indústrias da região, que consomem metade da energia produzida.
O Governo federal está investindo R$ 1,2 bilhão na obra, cuja conclusão está prevista para 2006.
Entre as unidades que integram a Eletronorte (subsidiária de Eletrobrás que atua na região amazônica), Tucuruí é a única apresentar superávit financeiro.
No modelo de privatização estabelecido para o governo para o setor elétrico, a hidrelétrica será vendida isoladamente.
O governo federal afirma que está tomando todas as previdências para evitar que a privatização de Tucuruí cause impactos negativos no mercado de energia elétrica da Amazônia.