AVANÇO NO VALE DO SÃO FRANCISCO PREOCUPA PRODUTORES DE JALES

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Um grupo formado por quatro viticultores da região de Jales - José Donizete Galetti, Márcio Nishimoto, Wagner Mansueli e Valdecir Vechi - esteve de 22 a 26 de fevereiro no Vale do São Francisco, mais precisamente em Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), onde encontra-se instalado o maior projeto de fruticultura irrigada no país.
    A excursão técnica, que foi coordenada pelo agrônomo Luiz Carlos Floriano da Silva, teve o patrocínio da comissão organizadora da oitava Festa da Uva e do Mel. As passagens aéreas e a estadia em Petrolina foram recebidas como prêmio pelos produtores, tendo em vista terem sido destaques no evento.
    Segundo Floriano, o grupo visitou diversos empreendimentos agropecuários, como a Fazenda Koshyama, a Timbaúba Agrícola, a Vale das Frutas e a FruitFort, todas braços de grandes grupos econômicos, como Carrefour e Queiroz Galvão.
    Mas, o programa de visitas também envolveu pequenas propriedades, de acordo com o agrônomo, na verdade lotes irrigados, onde predomina a diversificação no cultivo de frutas com uso de mão-de-obra familiar.
    A excursão contou ainda com participação em palestras e debates com técnicos da Valexport, uma sociedade sem fins lucrativos, criada em 1998, com o objetivo de promover gestões técnico-agronômicas e político-institucionais, com vistas a defesa e incremento da produção no Vale do São Francisco.
    Segundo Luiz Carlos, por ocasião das visitas às áreas produtivas e durante os contatos mantidos com técnicos envolvidos na produção de uva, manga, pinha, goiaba, banana e outras frutas, o que mais impressiou o grupo jalesense foi o tamanho e a relevância do chamado "agronegócio da fruta", que mobiliza, de acordo com dados da Valexport, cerca de meio bilhão de dólares por ano. Uma parte significativa desse dinheiro, inclusive, é oriunda da exportação principalmente manga e uva.
    Foram visitadas propriedades cujo volume individual de exploração alcança 100 hectares em produção, como na Timbaúba Agrícola, ou até 150 hectares de uva em produção e outros 100 hectares em fase de implantação, como no Vale das Frutas, do grupo Carrefour, com o envolvimento direto de 300, 400 e até 500 funcionários. Ainda segundo o agrônomo, a produção é processada em modernos "Packing House" instalados nas próprias fazendas e destinados ao abastecimento de mercados do próprio Nordeste e do Sudeste, sendo que uma parte significativa - cerca de 60% da safra do segundo semestre - é esportada para a Europa.
    "O fato de haver duas safras por ano e a exportação para a Europa, chamaram nossa atenção, tendo em vista os bons níveis de produtividade relatados, ou seja, de 12 a 15 toneladas por hectare na safra do primeiro semestre e de 20 a 30 toneladas por hectare no segundo semestre", enfatizou Luiz Carlos.
 
 
 
 
 

APREENSÃO

    O agrônomo disse que a diferença de produtividade e o destino da produção, é reflexo direto do clima predominante na região (caatinga), onde praticamente não chove e a pouca precipitação verificada concentra-se entre os meses de janeiro e março, o que favorece sensivelmente a qualidade do produto.
    Sob esse aspecto, o agrônomo enfatizou que os produtores da região puderam observar "in loco" e até com certa apreensão, que o produto do Vale do São Francisco tem qualidade suficiente para competir com a uva da região de Jales.
    Um outro aspecto observado durante a visita, diz respeito à distância que os produtores do vale do São Francisco estão tomando em relaçào aos desta região, seja quanto aos aspectos tecnológicos e comerciais, seja na produção de uvas sem semente, aliás, segundo Luiz Carlos, principalmente sob esse aspecto, bem como no que tange ao marketing e à comercialização.
     "Os produtores daqui testemunharam dezenas de hectares (em produção comercial), de videiras com frutas sem sementes, com destaque para as variedades Festival e Superior, cuja produção alcança até cinco dólares o quilo a nível de produtor, embora a produtividade seja relativamente - abaixo de 5 toneladas por hectare)", destacou o agrônomo.
    Segundo ele, o profissionalismo e a tecnologia alcançam também a comercialização da produção, que, aliás, tinham os mesmos problemas que os verificados em Jales atualmente, ou seja, calotes, exportação por atravessadores, falta de transparência nas negociações, entre outras. 
    "O caminho encontrado", de acordo com técnico, "foi a profissionalização por meio da implatação de um sistema integrado que tem por meta a centralização do processo de comercialização através da integração dos produtores e compradores e a realização de vendas por meio de leilões do tipo "Velling" (espécie de leilão eletrônico, já adotado pelos produtores de flores de Holambra), Balcão Eletrônico (vendas pela Internet), Vendas Futuras e Exportação".
    O ambicioso projeto tem a parceria do Ministério da Agricultura (financiamento a fundo perdido), Banco do Brasil (desconto de duplicatas), Sebrae e a execução do Valexport.
    "Pelas explanações dos profissionais envolvidos e pelo otimismo que verificamos nos produtores de lá, pode - se esperar enormes avanços neste que é o grande gargalo da atividade agrícola e um passo que deve ser seguido pelos produtores de Jales", concluiu Luiz Carlos Floriano.

Fonte: Jornal de Jales, 07 de Março de 1999, p.15.