BAHIA VIVE PROSPERIDADE

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Estado tem pelo menos três ilhas de desenvolvimento
 Os investimentos realizados nos últimos quinze anos na Bahia permitiram o surgimento de pelo menos três ilhas de prosperidade: são as regiões do baixo médio São Francisco, oeste e sul onde concentram-se grandes empreendimentos. 
As duas primeiras revelaram- se potenciais para atividades ligadas ao agronegócio, baseadas sobretudo na agricultura irrigada, expondo os contrates de um Estado que possui dois terços de seu território no semi-árido. 
A terceira região, que durante muitos anos viveu do cacau, uma cultura que chegou a se confundir com a história da Bahia, hoje vale-se do turismo. 
Os destaques vão para os municípios de Juazeiro, Barreiras e Porto Seguro. A revolução econômica verificada nessas regiões é tão significativa que apenas os municípios de Barreiras e Juazeiro juntos respondem por cerca de 5% do Produto Interno Bruto estadual a partir da produção de grãos e fruticultura que conquistaram espaço com a queda da representatividade da cacauicultura. Até meados da década de 80, a matéria-prima do chocolate representava quase metade de tudo que era produzido na agricultura baiana. Atualmente sua participação é de cerca de 15%. 
No decorrer dos anos 90 o perfil da atividade agrícola no Estado ganhou novos contornos. Dados apresentados por César Vaz, diretor da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia – SEI, mostram que o Valor Bruto de Produção do município de Juazeiro passou de 2,6% em 1985 para 5,5% em 1997. Em Barreiras o incremento é ainda mais expressivo, o VBP saltou de 1,13% para 11% no mesmo período, transformando a região na principal fronteira econômica do Estado e foco de investimentos. 
A soja, principal produto agrícola do oeste já não reina soberana, apesar da safra recorde fechada para este ano de 1,5 milhão de toneladas. Alguns agricultores começam a apostar que, no oeste baiano em se plantando tudo dá. O milho é outro bom exemplo. A colheita da safra 1999/2000 promete um incremento de 25% sobre as duas safras anteriores. Surgem agora com força total o algodão e o café, além da mamona, melancia, feijão e a pecuária. O café do tipo conillon apresenta uma média de produtividade de 60 sacas por hectare contra a média nacional estimada entre 12 e 15, despertando o interesse de cafeicultores de outros Estados. 
A visão de mercado atraiu para a região multinacionais como a Cargill, um dos principais consumidores da soja produzida na região. Atualmente mais de 500 mil toneladas do grão passam pela unidade de esmagamento da indústria. Outro grande empreendimento na região pertence a Ceval, também consumidora da soja. As duas empresas acenam com novos investimentos em ampliação, acompanhando o crescimento da produção. De acordo com Wadson Menezes, diretor de Políticas Públicas da Secretaria de Planejamento do Estado, a proposta da Ceval prevê um aporte de R$ 60 milhões na unidade até 2003. Outra indústria, a Caramuru, produtora de óleos vegetais, anuncia investimento de R$ 42 milhões. 

 
Alta da produção faz população crescer mais de seis vezes
A força da produção de Barreiras provocou reflexos no número de habitantes. O município viu sua população crescer mais de seis vezes nas últimas três décadas. De 1970 para cá, a taxa populacional passou de 20 mil para 130 mil habitantes. Migrantes da região Sul do país, sobretudo dos Estados do Paraná e Rio Grande do Sul, são responsáveis por 60% desse incremento. As riquezas, entretanto, não chegam para todos, estão concentradas em mãos de poucos e não se revertem proporcionalmente em benefício da população, muito menos nas taxas de empregabilidade que não conseguem acompanhar o ritmo regional. 
Enquanto culturas como o cacau, que ainda hoje absorve 20% da mão de obra em agricultura no Estado, em 12,9% de área plantada, representando 5,6 milhões de pessoas, a soja, no Oeste, emprega menos de 1%. A colheita mecanizada, utilizando equipamentos de última geração, ocupa o espaço do homem no campo. Em Barreiras, a relação de homem/hora/hectare é de 0,03 em 19% de área plantada. 
O pólo fruticultor de Juazeiro propõe uma relação de trabalho diferente. O manuseio da fruta tipo exportação requer qualificação, tendo em vista a exigência do consumidor final que em maioria está localizado no mercado Europeu. O setor emprega 6% do total. Só na cultura da manga a relação é de 0,49 em 0,5% de área plantada. 
Incoerentemente, o comércio é o principal setor empregador no celeiro agrícola baiano, mas também depende da agricultura. Dados do CDL local apontam para a existência de 1.400 empresas cadastradas no município, empregando cerca de 6 mil pessoas da mão de obra local. A entidade não tem contabilizadas as cifras movimentadas pelo setor, mas sabe que a maioria dos estabelecimentos é de pequeno porte. Existem revendedores de defensores, insumos e toda sorte de maquinários agrícolas. As revendas de veículos importados começam a ganhar destaque. 
A arrecadação média estimada em R$ 3,5 milhões tem assegurado os investimentos no setor público. É o caso das escolas destinadas ao ensino fundamental que tiveram a oferta de vagas ampliada de 19 mil em 1996 para 32 mil, neste ano letivo. De acordo com a assessoria de imprensa da prefeitura sobrou vagas nas escolas municipais, este ano, o que não ocorreu, no ensino médio, de responsabilidade do estado e carente de novas unidades. O município possui três universidades, sendo uma estadual e duas particulares que disponibilizam 10 cursos de graduação. 
A principal carência, porém, diz respeito ao setor de saúde. A microrregião de Barreiras dispõe de um único hospital regional, com 168 leitos, insuficientes para a demanda, e sem Unidade de Tratamento Intensivo – UTI. 
“Se a situação exigir maiores cuidados o caminho certo a tomar é do aeroporto”, diz Ivan Carvalho, gerente do Hotel Solar das Mangueiras, único classificado na cidade, com três estrelas. (H.F.) 

 
Acarajé dá lugar ao churrasco
A culinária predominante é importada. O tempero do sul se faz presente nas churrascarias e no Centro de Tradições Gaúchas. Os restaurantes de comidas típicas de Minas Gerais e Goiás, estados fronteiriços, também imperam. Tem até um restaurante francês, o La Rose, ponto de referência na cidade e certeza de encontrar vinhos e queijos da melhor qualidade. O gerente hoteleiro, Ivan Carvalho, filho da capital, Salvador, sente falta de iguarias mais apimentadas. “Aqui, em lugar do acarajé, comemos pamonha. Existem pelo menos umas 20 casas que vendem o produto mineiro e apenas duas baianas de acarajé, uma delas falida”, brinca. 
Barreiras é um dos poucos municípios baianos a realizar Carnaval seguindo o calendário tradicional da festa, e não tem micareta (Carnaval fora de época) como no resto do Estado. Os foliões vêm das regiões próximas e estados vizinhos, além do Distrito Federal. O número de foliões beira 100 mil, 40% deles, turistas. Este ano a festa movimentou cerca de R$ 22 milhões. O incentivo que vem sendo dado à festa tem outros objetivos que extrapolam o mês de fevereiro. (H.F.)