Hoje
em dia as grandes empresas desempregam mais do que contratam. São
as pequenas e médias que geram emprego, aqui e mundo afora. Mas,
em vez de fortalecer a pequena empresa, quase todos os governos do Brasil
a ignoram ou a enfraquecem.
As pequenas
e médias empresas são tipicamente dirigidas pela classe
média alta, em torno de 10% da população brasileira.
Se cada membro da classe média empregasse dez funcionários,
não teríamos desemprego neste país. Teríamos
100% da população empregada, por definição.
Hoje, com os inúmeros cursos disponíveis de administração,
gerenciar uma empresa com dez pessoas não é coisa do outro
mundo. O difícil é abrir e manter uma pequena ou média
empresa no Brasil. A maioria das leis, voltadas para conter a grande
empresa, acaba contendo a pequena e a média.
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e pesquise os assuntos mais tratados pelos nossos economistas e governantes
- os temas mais freqüentes são juros, inflação
e câmbio. "Pequenas e médias empresas" raramente
fazem parte do temário de discussão. Ajudar a pequena
e a média empresa a crescer, nem pensar.
Estamos assistindo
a uma sistemática destruição desse setor no Brasil,
de roldão, de nossa classe média. Os ricos com suas grandes
empresas já não criam mais empregos e os pobres não
têm como gerá-los. Denegrir e dizimar a classe média
por seus "valores pequeno-burgueses" pode ser uma grande vitória
política, mas será um enorme suicídio econômico.
De vinte anos
para cá, além de aumentarem os impostos, reduziram os
prazos de pagamento desses impostos de 120 para quinze dias. Hoje, as
empresas precisam pagar 40% de sua receita ao governo antes de receber
de seus clientes. O capital de giro dessas empresas sumiu; em vez de
financiar a produção, financia o governo.
Não
é a economia informal que está crescendo, é a economia
formal e a classe média que vêm sendo destruídas,
e rapidamente. Estudo realizado pelo Sebrae, e apresentado por Alencar
Burti, estima que 31% das pequenas empresas quebrarão até
2005. Ou seja, não somente não irão empregar ninguém
como vão desempregar aqueles que já têm emprego.
Não
é exatamente uma previsão fora de propósito, porque
a grande maioria dessas empresas não obtém lucro há
mais de três anos, e 90% delas não possuem mais capital,
muito menos capital de giro. Se levarmos em conta os encargos fiscais
em atraso, os Refis, os processos trabalhistas a pagar, a maioria está
com patrimônio negativo, ou seja, encontra-se literalmente quebrada.
Muitas não fecham imediatamente porque não podem pagar
os elevados custos da demissão dos funcionários. Vão
levando, na esperança de que as coisas melhorem. A maioria dos
pequenos e médios empresários nem pensa mais em crescer,
mas em vender suas empresas assim que a economia melhorar.
Até
recentemente, as empresas médias sobreviviam sonegando um ou
outro dos 46 impostos a pagar. Sonegavam o suficiente para se manter
vivas. Hoje não dá mais para sonegar. Ou se sonega tudo,
devido ao excelente controle e amarrações entre os órgãos
arrecadadores, ou não se sonega nada. Como sonegar todos os impostos
dá cadeia, e não sonegar nenhum significa falência
em alguns anos, a saída é fechar a empresa assim que for
possível.
Ainda segundo
estimativas de Burti, 59% das pequenas e médias empresas fecharão
as portas em 2009. Essas estatísticas não são exageradas.
O número de insolvências nesse segmento sempre foi elevado,
só que antigamente cinco novas empresas eram criadas para cada
quatro que quebravam.
Hoje não.
Não vejo mais aquela vontade de ser empresário e empreendedor
no Brasil, muito pelo contrário. Entre abrir uma pequena empresa
e arrumar um emprego público, os filhos da classe média
estão preferindo a opção mais segura. E eles têm
razão.
Quando baixarem
os juros dos empréstimos, nossos intelectuais vão descobrir
que não haverá mais classe média para tomá-los,
não haverá administrador de empresas querendo administrá-los,
não haverá engenheiro querendo empregá-los.
Em sua opinião,
quem tem mais condições de gerar os empregos de que este
país necessita? Nossos intelectuais, nossos economistas, nosso
governo ou nossa classe média? É uma interessante questão
para ser discutida ao longo desta semana.
Stephen
Kanitz é administrador por Havard |