SIMULAÇÃO E EFEITO DE VERANICOS EM CULTURAS DESENVOLVIDAS NA REGIÃO DE PALMEIRA D’OESTE, ESTADO DE SÃO PAULO
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SIMULAÇÃO E EFEITO DE VERANICOS NA REGIÃO NOROESTE DO ESTADO
RESUMO: Por meio de simulações, foi determinada as probabilidades de ocorrência de veranicos de diferentes durações e seus efeitos em seis culturas cultivadas na região de Palmeira d´Oeste - SP. Os resultados das simulações mostraram que as freqüências dos veranicos simulados apresentaram comportamento semelhante no período de dezembro a março, caracterizado pelas altas frequências de ocorrência de veranicos com duração reduzida. Para os meses de abril, maio, setembro, outubro e novembro, ocorreu uma maior distribuição das frequências simuladas dos veranicos, entretanto, pode-se ainda evidenciar uma tendência de concentração das maiores frequências para os veranicos de menor intensidade. Para os meses de junho a agosto (período seco) pode-se evidenciar uma dispersão dos valores das frequências simuladas para os veranicos de diferentes durações, com sensível aumento das frequências simuladas para veranicos mais longos. Para a cultura do algodão as produções relativas médias foram próximas para os três meses avaliados, variando de 75,5 a 83,6%, enquanto que na cultura do feijão foram maiores as diferenças entre as produções relativas médias para os três meses, variando entre 54,5 e 84,3%. No caso do milho, observou-se uma variação de 39,2 e 73,6% entre as produções médias para os meses de agosto e outubro. Para o caso das culturas perenes observou-se que as menores produções médias ponderadas ocorreram para o mês de agosto.
 

PALAVRAS-CHAVE: planejamento da irrigação, Monte Carlo, veranico
 
 

SIMULATION AND DROUGHT STRESSES EFFECTS ON CROPS GROWN IN PALMEIRA D´OESTE REGION, STATE OF SÃO PAULO

SUMMARY: It was determined the probabilities of drought stresses of different durations and the effect of these stresses in six crops. A computing program was uses to achieve the simulations. The results showed that the frequency in the simulated drought stresses presented a similar behaviour in the period extending from december till march, characterized by high frequencies in the occurrence of short duration drought stresses. For the months of april, may, september, october and november there was a better distribuition in the simulated drought stresses´s frequency; however it was clearly shown that there was a tendency to the concentration in a more frequent occurrence of drought stresses of lesser intensity. For june, july and august (normal drought period) a dispersion on simulated frequency values can be inferred for drought stresses of variable durations, with a consistent rise in the simulated frequencies on stoping longer duration drought stresses. It was verifies that concerning cotton crop the relative yields averages were proximate for the three availed months, varying from 75,5 to 83,6%. Concerning bean crop the differences were greater among relative yields concerning its averages for the three months, varying between 54,5 to 73,6%. As for corn the variation detected was from 39,2 to 73,6%, among the averages on yields for august and October. As for perennial crops the smallest average yields were detected in august.

KEYWORDS: irrigation plan, Monte Carlo, drought stress
 

INTRODUÇÃO: Num mundo globalizado e de alta competição, é imprescindível a adoção da tecnologia da irrigação. Em cultivos de entressafra ou até mesmo o cultivo de safrinha sem o uso de irrigação, os riscos no processo de produção são elevados em função do estresse hídrico, sendo mais crítico na fase de florescimento para a maioria das culturas. As perdas em produção variam com a intensidade e duração do estresse hídrico, bem como dependem do estádio de desenvolvimento da planta (Couto et al., 1986), sendo que o déficit hídrico tem efeito direto na produção final das culturas, aliado ao Fator de Resposta da Cultura à Água (Ky), o qual depende da cultura e do estádio de desenvolvimento da mesma. Este trabalho teve por objetivos estabelecer, por meio de simulações, a duração e a frequência de ocorrência de veranicos para a região de Palmeira D’Oeste - SP, bem como o efeito dos veranicos simulados na fase crítica do desenvolvimento de seis culturas cultivadas na região.
 

MATERIAL E MÉTODOS: Através do software VERANICO 1.0 (Sousa, 1999) simumlou-se a freqüência relativa e o período de retorno da ocorrência de veranicos, de diferentes durações, dentro de um mês, e o respectivo efeito destes veranicos na produção das culturas. Para alimentar o modelo são necessários os dados relativos à freqüência observada de dias consecutivos sem chuva para um determinado mês, obtidos de uma série meteorológica, os dados de evapotranspiração, os valores dos coeficientes de cultura e de resposta à água em cada estádio e os dados de solo. Para obtenção das sequências observadas de dias sem chuva, intercalados entre dias chuvosos, utilizaram-se dos dados pluviométricos referentes a um período de 27 anos obtidos junto ao CTH - DAEE - SP, para o posto pluviométrico de Palmeira D’Oeste – SP (B7-042. Assumindo-se como dia seco, o dia em que ocorreu precipitação pluviométrica menor ou igual a evapotranspiração de referência em base diária, para a região e mês considerados. A estação agroclimatológica escolhida foi a localizada em Ilha Solteira, tendo em vista a qualidade e a quantidade de dados disponíveis para o cálculo da evapotranspiração de referência. A evapotranspiração de referência ETo média, em base diária, foi estimada utilizando-se o software HIDRISA (Hernandez et. al., 1995), considerando-se a equação de Penman-FAO, para um período de 21 anos. Foram consideradas as umidades do solo de 23,70 e 11,80% (volumétrica) como Capacidade de Campo e Ponto de Murcha Permanente, respectivamente, sendo estes valores correspondentes aos valores médios dos solos típicos da região (Podzólico Vermelho Escuro). Considerou-se nas simulações, o efeito dos veranicos em três culturas anuais (algodão, feijão e milho) e três perenes (banana, citros e uva). Para todas as culturas simulou-se o efeito dos veranicos no estádio de desenvolvimento mais sensível ao déficit hídrico, sendo os coeficientes de cultivo determinados por Doorenbos & Pruitt (1977). Os valores dos fatores de resposta da cultura à água (Ky), foram obtidos em uma tabela apresentada em Doorenbos & Kassam (1979). Para todas as culturas considerou-se uma profundidade do sistema radicular de 0,4 m, à exceção da cultura do citros, onde foi considerado 0,8 m.
 

RESULTADOS E DISCUSSÃO: Na cultura do algodão as produções relativas médias ponderadas foram próximas para os três meses, variando de 75,5 a 83,6% e a menor produção média ocorreu para o mês de setembro, devido ser neste mês, maiores as probabilidades de veranicos de maiores durações. No mês de novembro os veranicos individuais proporcionam maiores perdas, entretanto neste mês ocorreu a maior produção relativa média ponderada, ou seja para este mês foi simulada a menor perda média para o algodão, já que neste mês são menores as probabilidades de veranicos de maiores durações. Na cultura do feijão, as diferenças entre as produções relativas médias ponderadas para os três meses variam entre 54,5 e 84,3%, sendo o mês de julho o de menor produção relativa para cada veranico individualmente. No caso do milho, observa-se uma variação de 39,2 e 73,6% entre as produções médias para os meses de agosto e outubro, semelhante ao algodão, ou seja, no mês em que os veranicos individuais afetam menos a produção (agosto), são maiores as probabilidades de veranicos mais intensos, o que vai acarretar em uma menor produção relativa média. Para o caso das culturas perenes observa-se que as menores produções médias ponderadas ocorreram para o mês de agosto. Verifica-se que veranicos ocorridos em setembro são os mais danosos a produção, entretanto, para este mês foram simuladas as maiores produções relativas médias ponderadas, o que ocorreu pelo fato de neste mês serem menores as probabilidades de ocorrência de veranicos mais intensos. Na Tabela 1 são apresentados os valores das durações, probabilidades e períodos de retorno dos veranicos críticos para cada cultura e mês de ocorrência. Verifica-se a probabilidade de 35,2% para ocorrer este evento, o que resulta em um período de retorno de 2,84 anos. De modo geral, são altas as probabilidades de ocorrência dos veranicos críticos para as culturas anuais, o que significa um período de retorno curto para os eventos, sendo de um ano para a cultura do milho em agosto. Pode-se considerar, com base na Tabela 1, o alto risco de produzir sem irrigação nas condições estudadas. Para as culturas perenes, os veranicos críticos ocorreram para o mês de setembro na cultura da uva, porém com um período de retorno de 6,47 anos. Para o citros não foram obtidos veranicos críticos para as condições avaliadas. A cultura da banana mostrou-se bem mais sensível, com veranicos críticos de período de retorno de 1,26; 1,0 e 1,61 anos para os meses de julho, agosto e setembro, respectivamente.
 
 

TABELA 1 - Durações, probabilidades e períodos de retorno dos veranicos críticos.

Culturas Anuais
Algodão
Feijão
Milho
Mês
Dur. 
Dias
Prob. 
(%)
P.R. 
anos
Mês
Dur. 
Dias
Prob. 
(%)
P.R. 
anos
Mês
Dur. 
Dias
Prob. 
(%)
P.R. 
anos
Set.
12
72.5
1.38
Mai.
18
35.2
2.84
Ago.
13
100.0
1.00
Out.
11
66.4
1.51
Jun.
23
53.8
1.86
Set..
12
72.5
1.38
Nov.
10
63.2
1.58
Jul.
17
79.1
1.26
Out.
11
66.4
1.51
Culturas Perenes
Banana
Citros
Uva
 Mês
Dur.
Dias
Prob.
(%)
P.R.
anos
Mês
Dur.
Dias
Prob.
(%)
P.R.
anos
Mês 
Dur.
Dias
Prob.
(%)
P.R.
anos
Jul.
17
79.2
1.26
Jul.
---
---
---
Jul.
---
---
---
Ago.
13
100.0
1.00
Ago.
---
---
---
Ago.
---
---
---
Set.
13
62.2
1.61
Set.
---
---
---
Set.
21
15.5
6.45

CONCLUSÕES: Este trabalho permitiu concluir que de modo geral, são altas as probabilidades de ocorrência dos veranicos críticos para as culturas anuais, com um período de retorno curto para os eventos. No caso das culturas perenes, a cultura da banana foi a que se mostrou mais sujeita aos efeitos do veranico, com períodos de retorno de 1,26; 1,0 e 1,61 anos para os meses de julho, agosto e setembro, respectivamente.
 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COUTO, L.; COSTA, E. F. & VIANA, R. T.  Efeito do veranico sobre a produção de cultivares de milho In: Relatório técnico anual do Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo 1980-1984. Sete Lagoas, MG: EMBRAPA-CNPMS, 1986. p.77-78.
DOORENBOS, J.; KASSAM, A.H.  Yield response to water. Rome: FAO, 1979. 193p. (Irrigation and Drainage Paper, 33).
DOORENBOS, J. & PRUITT, W.O.  Crop water requirements. Rome, FAO, 1977. 144p. (Irrigation and Drainage Paper, 24).
HERNANDEZ, F.B.T.; LEMOS FILHO, M.A.F., BUZETTI, S.  Software HIDRISA e o balanço hídrico de Ilha Solteira. Ilha Solteira, UNESP / FEIS / Área de Hidráulica e Irrigação, 1995, 45p. (Série Irrigação, 1).
SOUSA, S.A.V.  Programa computacional para simulação da ocorrência de veranicos e queda de produção. Piracicaba, 1999. 124 p. Tese (Doutorado) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” - Universidade de São Paulo.

 

Apresentado no
XXIX Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola – CONBEA 2000.
Imperial Othon Palace, Fortaleza – Ceará, 4 a 7 de julho de 2000.