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Na crise hídrica, meia verdade bastou para a torneira seguir jorrando
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Dinheiro não cai do céu, dizia meu pai quando o impulso consumista das crianças não via barreiras entre as gondolas do supermercado e a boa vontade dos mais velhos. A descoberta significou um baque naqueles tempos de vacas magras.

Tempos depois, ao visita-los no último fim de semana, acompanho uma discussão semelhante,dessa vez sobre a economia da água. Minha mãe queria aguar as plantas, e meu pai, espécie de Joaquim Levy da casa, recriminava. Engajado na tesoura, fiz coro a ele e, inconscientemente, me ouvi dizendo: “Água não cai do céu”. Logo depois, fui corrigido pela consciência: cair cai, mas até parar na torneira atravessa o mundo. Eis o baque da crise hídrica atual, agravada em São Paulo e já preocupante em outros estados: o óbvio não é assim tão óbvio. Ao nos deparar com a escassez de um recurso renovável e aparentemente infinito, aprendemos na marra que ele, apesar da gravidade, não cai do céu.

A ânsia por entender a origem da crise nos transformou, da noite para o dia, em especialistas em recursos hídricos – mais ou menos como em um acidente aéreo, quando o país inteiro ganha autoridade para opinar sobre ranhuras na pista e velocidade de cruzeiro. Queremos respostas – e culpados – o tempo todo, mas nem sempre nos damos conta de que fazemos parte do mesmo modelo de exploração, consumo e representação. É quando confundimos cidadania com clientela.

O desnorteio é comovente. Dias atrás, correu a informação na internet de que o aperto sobre o consumo residencial de água era nulo, já que a maior parte do recurso, algo em torno de 70%, era direcionada para a agricultura. Diante do fato, alguns gritaram eureka: basta fechar as torneiras da fazenda durante cinco dias da semana para podermos tomar banho em paz nas nossas cidades devidamente abastecidas de alimento, certo? Pois bem. Para alguns especialistas, é até possível reduzir esse consumo no campo com soluções inteligentes, como a proximidade das plantações aos mananciais.

Mas uma coisa é água de beber, outra é água de irrigar. Nem uma nem outra cai do céu, e é aí que o óbvio se transforma em muleta. Em entrevista à Folha de S.Paulo, o titular da área de irrigação da Unesp Ilha Solteira, Fernando Braz Tangerino Hernandez, explicou a nós, os leigos, que parte da água utilizada na agricultura retorna à atmosfera por meio da evaporação nas camadas superficiais do solo e da transpiração das plantas. A água, portanto, passa pela planta e volta (viu, mãe?). É a irrigação, além disso, o que permite extrair uma produtividade maior em uma área menor de cultivo.

Entre a nuvem e o nosso copo, portanto, existem mais coisas do que supõe a nossa vã filosofia. Existem acionistas. Existem tubulações. Existem buracos. Existem níveis de vazão. Existem desperdícios. Existem escolhas. Existem imprecisões. Existem serviços. Existem desserviços. E existem eufemismos.

Pelos jornais, as autoridades vêm a público, com tecnicismos e outros penduricalhos, para dizer que a crise era inevitável, não se restringe a divisas ou partidos e que tudo o que poderia ser feito está sendo feito, com campanhas e busca de soluções. Ok, mas foi o próprio governador paulista quem passou a campanha à reeleição dizendo que não havia nem haveria necessidade de racionamento, que estava tudo sob controle e que qualquer dito em contrário era um predito eleitoral. Para mau entendedor, meia verdade basta para manter as torneiras jorrando.

Na mesma época em que todos juravam estar tudo sob controle, lembro de ter parado no trânsito e observado o dono de uma garagem de automóveis, do tamanho de um quarteirão, usar o esguicho da mangueira para limpar o trilho do portão. A água usada pelo sujeito me garantiria, tranquilamente, uns três dias de banho. Mas quem se importava? Aquele uso sem reuso da água - já que trilhos de portão não transpiram - era o desaforo autorizado pelo conforto. Como ele somos muitos.

Há um ano, diante do agravamento da crise, a companhia de saneamento básico do estado chegou a elaborar um plano para evitar o colapso agora iminente: um rodízio de 24 horas sem água para cada 48 horas de serviço normalizado. Segundo a reportagem, esta do Estado de S.Paulo, durante o período seriam economizados 120 bilhões de litros de água. Era mais ou menos como fechar o time para evitar a goleada. O governo não quis apostar. Optou por diminuir a pressão da água, pelo bônus na conta, pela transferência entre sistemas e pelo discurso anti-pânico (ou anti-voto). Deu tão certo quanto escalar o nanico Bernard no meio dos grandalhões da Alemanha. Não era preciso ser especialista para antever o óbvio. O risco agora é passar cinco dias da semana sem água na torneira.

 

Yahoo Notícias, 29 de janeiro de 2015.

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
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