O agricultor
Shiro Tanino, 56 anos, planta acerola há quatro décadas
e sabe que, se chover, é só esperar 35 dias para colher
os frutos. Ele tem 600 plantas produzindo e sabe também que a
chuva,
quando chega a Junqueirópolis (SP), não molha só
suas terras. Ela vem para todo mundo. Aí, a produção
aumenta muito, não há câmaras de congelamento suficientes
para todo o volume e o preço
cai, observa. Atentos a esses picos em épocas chuvosas,
pesquisadores do câmpus de Ilha Solteira da Universidade
Estadual Paulista (UNESP) passaram
a estudar quatro sistemas de irrigação no cultivo da fruta
e hoje norteiam a produção na chamada capital da
acerola, onde existem cem mil plantas, segundo levantamento do
Instituto de Economia Agrícola (IEA) do Estado de São
Paulo. A propriedade de dez alqueires pertencente a Shiro Tanino foi
usada como campode testes. Lá, antes dos experimentos, o produtor
já irrigava seus pés de acerola, mas sem regularidade.
Quando o clima colabora, ele chega a colher 80 quilos da fruta por planta/ano.
Quando não chove, dá pra compensar com a irrigação.
A produção cai um pouquinho, porque a umidade relativa
do ar fica baixa, mas o impacto no resultado final é menor.
Depois de dois anos de experiência nas terras de Tanino, concluiu-se
que a irrigação permite melhor distribuição
da produção durante o ano, facilitando o
escoamento do volume produzido. Em cultivo de sequeiro, colhe-se acerola
durante cinco ou seis meses do ano, nos períodos chuvosos. Já
nas lavouras irrigadas é possível ter acerola durante
nove meses em junho, julho e agosto a temperatura mais baixa
torna inviável a produção.
Sem os picos, diminui a oferta, aí ganhamos no preço,
destaca o produtor, que vende 48 toneladas/ano a R$ 0,60 o quilo para
a indústria paulista. Segundo dados da Coordenadoria de Assistência
Técnica Integral (Cati), o preço varia de R$ 0,50 a R$
0,70 por quilo na região de Dracena, à qual pertence Junqueirópolis.
O mercado de acerola é bom, a procura pelo produto é
grande e o sistema de irrigação ajuda. Testes
Aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (Fapesp) o projeto da Unesp foi colocado
em prática nas terras de Tanino em 2000. Os técnicos instalaram
quatro sistemas de irrigação nas lavouras de acerola:
microaspersão, mangueira perfurada a laser e dois tipos de gotejamento,
um de superfície e outro, de subsuperfície.
No primeiro equipamento, um pequeno aspersor projeta água para
a copa da planta. Não molha a superfície toda, nem as
entrelinhas (onde cresce o mato). A mangueira perfurada a laser joga
água para cima e molha toda a extensão da entrelinha.
É colocada, normalmente, entre duas ruas de plantas. E no sistema
de gotejamento, pequenas bocas são instaladas na
superfície ou no subsolo (no caso do gotejador de subsuperfície).
Elas vão lançar as gotas de água que penetram na
terra.
De acordo
com o professor Fernando Braz Tangerino Hernandez,
da UNESP, a produção em lavouras
irrigadas permite ao produtor comercializar um volume maior de acerola.
A diferença na produtividade nem é tão grande,
mas colhe-se a fruta quase o ano todo. Na safra 2001/2002 houve
uma diferença de produtividade um pouco mais marcante entre plantas
irrigadas (57,3 quilos/pé, em média) e não-irrigadas
(40,5 quilos/pé). A
melhor distribuição da produção também
possibilita a organização do espaço nas câmaras
frias da Prefeitura de Junqueirópolis, administradas pela Associação
Agrícola. Elas são usadas pelos 57 associados para congelar
a acerola produzida. Investimento
Segundo Hernandez, os melhores resultados
foram observados nas lavouras irrigadas pelos sistemas de gotejamento
de superfície e mangueira perfurada a laser, capazes de molhar
uma área maior, garantindo, portanto, o armazenamento mais distribuído
de água no solo. Com o uso da fertirrigação
conseguiu-se uma economia de 35% no total de adubo aplicado, sem alteração
da produtividade. A recomendação fica entre essas
duas opções. O custo de instalação é
quase o mesmo, com a diferença que a mangueira dura menos tempo,
afirma o professor.
Para adotar o gotejamento de superfície o produtor vai gastar
R$ 5.644,00 por hectare e ter um sistema com durabilidade de dez anos.
O gotejamento de subsuperfície tem o mesmo custo, só
que apresentou um problema: o entupimento dos emissores de água,
explica Hernandez. A mangueira perfurada a laser
dura três anos e custa R$ 5.668,00 por hectare, para ser instalada.
O custo do sistema de microaspersãoé de R$ 5.863,00 por
hectare. Os
testes feitos em Junqueirópolis mostraram que a irrigação
dá ao produtor a chance de ampliar sua receita bruta em pelo
menos R$ 6 mil por hectare. Agora,
os pesquisadores estão realizando um estudo sobre poda nas lavouras
de acerola do município. Selecionamos os dois melhores
sistemas de irrigação e combinamos três tipos de
poda. Os resultados serão comparados em 2003, afirma Hernandez.
A UNESP também mantém uma
estação meteorológica na cidade. Pela internet
(www.agr.feis.unesp.br/clima.htm),
os produtores podem se informar sobre o volume de chuva e os índices
de evapotranspiração. Conhecendo o quanto as plantas
consumiram de água fica mais fácil o agricultor saber
quanto deve ser reposto, diz o
pesquisador.
UNESP,
(18) 3743-1180; Associação Agrícola de Junqueirópolis,
(18) 5841-1036; Casa da
Agricultura de Junqueirópolis, (18) 5841-1332; Cati-Dracena,
(18) 5821-3250
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